30 de junho de 2016

Sair de casa é se reorganizar nas mudanças da vida

Crônicas

A primeira vez que pensei em sair de casa foi aos seis anos de idade. Falei aos meus pais que iria arrumar as malas (que eu nem tinha!) e me mudaria para uma casa na árvore onde eu pudesse brincar em paz com os meus livros, as minhas bonecas e os meus ursinhos de pelúcia.

Uma ideia que, obviamente, só se sustentou até a hora do lanche, mas que, inevitavelmente, foi se construindo de outras formas ao longo do tempo.

Vinte e seis anos depois, arrumei as malas (que agora eu já tinha!) e resolvi me mudar. Não para uma casa na árvore, infelizmente, mas para onde coubessem todas as mudanças que o tempo fez em mim. E que acaba fazendo em todos nós.

sair de casa

Imagem: Pinterest

Mudanças de planos, de amores, de amigos. Mudanças de pontos de vista, de estilo, de cortes de cabelo. Mudanças de prato favorito, de emprego ou de alimentação… Mudanças que cobram espaço, exigindo da alma um cantinho novo e tranquilo para reorganizar tudo em seu devido lugar. 

Reorganizar as regras, os móveis, o tempo, as responsabilidades, o cardápio, as visitas, as festas, o que exige barulho e o que pede silêncio. Reorganizar as relações com os outros e consigo mesmo. Reorganizar todos os espaços, inclusive os de pai, mãe e filha. ♥️

Se antes eu me sentia acolhida só por chegar em casa, hoje me sinto gigante por acolhê-los. Seja com um sofá quentinho, com um prato delícia que aprendi a cozinhar, com uma palavra de conforto/motivação ou com a serenidade ao poder mostrar que, mesmo longe do mesmíssimo teto, continua dando tudo certo por aqui.

“Eu sei me virar sozinha!”, não mais aos gritos dos seis anos, mas à risada marota dos 32, oras! :)

Mudar. Da casa dos pais, de cidade, de emprego, de posição, de amor, de país. Mudar. A cor da parede, o caminho de volta, o corte do cabelo, a cama do lugar. Mudar. Para se (re)conhecer melhor, para se tornar maior. 

Mudar. Sem medo, pois leva-se a casa dos pais a todo e qualquer lugar aonde se vá!

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
10 de junho de 2016

Ninguém é tão experiente diante de uma máquina de lavar roupas

Crônicas

Ninguém é tão experiente diante de uma máquina de lavar roupas. Eu, por exemplo, lavo roupa sozinha desde os 12 anos de idade, ou seja, há vinte anos. Conheço quase todas as marcas de sabão em pó, em pedra, amaciante e tira manchas. Sei, só de olhar, as peças que podem ser lavadas juntas e as que, nem por decreto, podem ser misturadas. NUNCA ousei estragar ou manchar um paninho sequer e morria de orgulho dos meus dotes de “lavadeira”…

Tudo isso até ontem, quando vi meu pijama e minha toalha, NOVINHOS E BRANQUINHOS, transformarem-se numa cartela cor-de-rosa que jamais imaginei existir! Tudo isso logo na estreia da máquina de lavar na casa nova e, ao contrário do que dizem quando a gente vai morar sozinha, não, eu não fiquei com vontade de pedir socorro à minha mãe.

Seria trágico ter que ouvir – calada -pela enésima vez “Quantas vezes eu avisei que não é para colocar roupa branca com roupa colorida na máquina de lavar, Jéssica?”

Pura frescura!

crônica-maquinadelavar

Mas eu nunca misturei rosa com cinza, muito menos rosa com vermelho. Marrom, então, eu não misturo com/por nada , mesmo se  eu tivesse alguma roupa marrom! Sempre lavei a mão todas as peças que, porventura, poderiam soltar tinta. De resto, misturo tudo! Vinte anos e sempre deu tão certo…

Até chegar uma toalhinha caríssima, não-sei-quantos-mil-fios, de cor lavanda, aparentemente suave e inofensiva, mas capaz de transformar o mundo em 50 tons de rosa. E eu que, um dia, achei que um mundo cor-de-rosa era algo bom…

Mas já fui socorrida pelo velho e conhecido alvejante sem cloro, eficaz na limpeza e na garantia de que misturar faz bem. Tô pronta para a próxima! Daqui a vinte anos, claro!

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
23 de maio de 2016

Horóscopo do dia ou um breve convite à ansiedade

Crônicas

Acho que a última vez que abri um “horóscopo do dia” foi na semana da minha formatura, lá em 2008, e, antes disso, algumas raras vezes nos intervalos da escola. Não que eu não acredite em signos, juro que acredito. Aliás, não sei se juro… mas acredito!

Tanto que sei tudo sobre o Touro que me rege no coração, na alma e na vida e sobre alguns signos que combinam com ele (sim, eu fiz aqueles testes para saber se o signo do paquerinha da época combinava com o meu…). No entanto, essa coisa de previsão diária sempre me pareceu sofrida demais e, convenhamos, não tenho signo pra isso.

horoscopo do dia - signos

Imagem: Pinterest

Na adolescência, lembro-me de que o horóscopo do dia girava em torno dos estudos e das relações amorosas: “Se deixar os afazeres para depois, eles vão virar uma bola de neve. Comece já!”,  “Hoje é um dia perfeito para se declarar. Que tal abrir o seu coração para o gato?”, “Melhores dias para um clima inesquecível: 15, 18, 23”.  Tudo devidamente previsto nas páginas finais da Revista Capricho, claro. ♥

No início da vida adulta, o horóscopo ganhou outras palavras para integrar o início da carreira e da possível construção de uma vida a dois. “Novos desafios estão por vir. Foque na sua intuição e seus sonhos serão alcançados!”, “Conhecer gente nova lhe trará novas perspectivas e, quem sabe, uma promissora oportunidade de emprego. Fique de olho para não perder essa chance!”, “Aproveite o tempo longe do escritório para viajar com o seu amor”, “Se estiver solteira, dê uma renovada no visual. Vai que entre um cafezinho e outro no trabalho surge alguém especial?”.

Horóscopo do dia é ou não é um convite à ansiedade?

Há quem praticamente só comece o dia depois de ler o seu horóscopo. Se as palavras forem de otimismo, maravilha! Cada segundo é uma torcida para algo bom acontecer. Se forem de cautela, haja paciência para ouvir as mil e uma possibilidades de tragédias na família, no trabalho, no amor, na vida financeira e até no caminho de casa para o supermercado. Em todo o caso, horóscopo do dia fabrica roteiristas de primeira na previsão do futuro. Os astrólogos nem precisariam se preocupar com tanto…

Não tenho signo para tamanhas adrenalina, expectativa e compulsão. Sou regida pelo controle e ai de mim se me atrever a um tiquinho de irresponsabilidade emocional. Entretanto, tenho um signo ávido pela curiosidade e, para fazer essa crônica, tive que me render:

Touro – 23 de maio de 2016

Você se afastará de seu cotidiano. É hora de fazer planos para o futuro. Você precisa encontrar um equilíbrio entre o físico e o bem-estar mental, o repouso e a atividade para fazer justiça às necessidades do seu corpo.

Algo do passado vai entrar novamente no seu caminho através de um encontro, uma carta ou um telefonema.

Ai, meu Deus! Bem que me falaram que eu precisava descansar senão vou ficar doente… Acho que vou dormir cedo hoje…. Mas e se esse algo do passado chegar enquanto eu estiver dormindo? Não pode ser… São mais de sete da noite e, depois das dez, só me encontro com meu travesseiro.

Os Correios também não entregam carta a essa hora… Como o meu passado teria a audácia de cruzar o meu caminho assim, sem sequer pedir licença e bater na porta? Que mal educado! Vou desligar o celular só pra ele ver que não será assim tão fácil! Cada uma…

Vou dormir. Horóscopo do dia não é coisa para o meu signo, definitivamente.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira