15 de junho de 2023

Li e recomendo: Um dia, um cão – Gabrielle Vincent

livros

Não sei bem se posso dizer que li um livro inteiramente desenhado – e não escrito – a grafite , mas “Um dia, um cão” me trouxe a consciência de que precisava no momento em que mais precisava: nem tudo se diz com palavras.

Quando Gabrielle Vincent desenha um dia de um cão abandonado na estrada, ela nos coloca num cenário bastante incomum nos dias atuais, observar com calma tudo o que está ao nosso redor e entender que cada um tem um lugar único no mundo.

Qual seria o lugar de um cão? Para alguns, dentro de casa; para outros, um quintal ou até mesmo a rua. Mas e se perguntássemos a ele, que não se expressa nem se comunica através das palavras, que lugar seria esse?

Até me deparar com esse livro, eu poderia jurar que o lugar favorito da Zoé era o mar. E, por isso, tantas vezes acordei ainda na madrugada para levá-la à praia e ver o sol nasscendo, na esperança de que aquilo era a verdadeira felicidade para ela. Não que não seja, claro, porque ela aaaaama estar no mar, correr na areia, pular ondas e me olhar num silêncio que me dizia tudo e me diz sempre: sou feliz!

Em mares de grafite que viram ruas, que viram céus que viram chuvas que viram aves e que viram o que o seu coração consegue alcançar, “Um dia, um cão” é um caminho sem volta para se permitir olhar para dentro e para as relações, sejam elas humanas ou multiespécies. Com calma, atenção e empatia. <3

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
08 de maio de 2018

Li e recomendo: Os quatro compromissos (a filosofia tolteca por Don Miguel Ruiz)

Cotidiano

Foi uma pessoa super querida quem me indicou “Os quatro compromissos”, o livro sobre a filosofia tolteca para o despertar da consciência e da espiritualidade. Confesso que ensaiei um riso incrédulo em meio à sugestão, mas logo me veio o pedido: “Leia sem preconceito, sem análise discursiva e sem colocar todos os seus embasamentos profissionais em primeiro lugar. Apenas leia e me diga o que achou”.

Tive resistência, não vou mentir. Não é o tipo de livro que costumo ler ou que indicaria com facilidade a alguém, mas segui o conselho à risca e, em vez de contar a minha opinião pessoalmente a quem me indicou, acho que algo tão primoroso merecia um post aqui no blog. ♥

os quatro compromissos - don miguel ruiz

Não consegui achar o livro físico aqui em Aracaju, mas vocês podem baixá-lo aqui.

Segundo o autor, Don Miguel Ruiz, os quatro compromissos nada mais são que a busca pela liberdade espiritual na visão dos toltecas, uma civilização que teria vivido há milhões de anos nas cidades mexicanas de Teotihuacan e Tula. Para esse povo, o mundo material em que vivemos não passaria de um grande sonho humano, uma névoa, criado pela mente. Sonho este movido pelo medo, pelas ilusões, pelas convenções sociais às quais já nascemos submetidos., que nos impedem de sermos essencialmente nós mesmos.

(eu sei que parece meio estranho – as dez primeiras páginas são, de fato, meio confusas -, mas o livro aborda preceitos filosóficos e psicológicos  – de Nietzsche  e Skinner, respectivamente -, no sentido de enfraquecer o poder que damos aleatoriamente a impressões externas e de fortalecer o nosso próprio interior. Assim, lembre-se: “Abstenha-se dos julgamentos” que o negócio anda hahaha)

Esse mundo, cheio de julgamentos e condenações, seria composto pelo sonho coletivo (o que a sociedade espera de nós) e pelo sonhos individuais (o que esperamos de nós mesmos, seja por vontade própria ou pelos compromissos que já nos são impostos desde a nossa concepção), que acabam nos “domesticando” (amo esse termo, pois o considero muito certeiro) e nos privando do nosso próprio autoconhecimento.

Para mudarmos esse cenário, precisaríamos acordar desses sonhos, traçando os quatro compromissos que nos libertariam e nos conduziriam a uma vida mais consciente e iluminada.

Os quatro compromissos:
1 – Seja impecável com a sua palavra

Segundo a filosofia tolteca, é o compromisso mais difícil e também o mais importante, uma vez que a palavra é a maior ferramenta que possuímos como seres humanos, a comunicação plena de quem somos.  Até escrevi uma crônica aqui no blog sobre o poder que ela tem. ♥

A sua palavra pode levantar ou derrubar alguém, inclusive você mesmo. Assim, nada mais forte e poderoso do que entendê-la e preservar a sua verdade. Já o pecado, para os toltecas, é aquilo que fazemos contra nós mesmos, a culpa, o julgamento, a nossa autorrejeição. Aliás, para a civilização mexicana, a autorrejeição seria o maior pecado que poderíamos cometer.

Assim, “ser impecável com sua palavra é não usá-la contra você mesmo”. E, infelizmente, é isso que fazemos boa parte do tempo. Julgamos, condenamos, e enaltecemos sentimentos como raiva, rancor ciúmes, inveja… desejamos que o próximo sempre perca, caia, sofra para que nos sintamos acima (de quê?, de quem?) mas nas redes sociais somos todos discípulos do amor, da paz e da cordialidade, né?

Os quatro compromissos:
2 – Não leve nada para o lado pessoal

É tão comum levarmos os comentários alheios para o lado pessoal, né? Passamos a acreditar que o outro está nos observando, nos julgando, prestando atenção em tudo o que fazemos como se tudo fosse sobre nós… Que belo umbigo do mundo que somos, não? rs

A verdade é que, na quase totalidade das vezes, não é sobre nós. É sobre o outro. E tem um trecho muito pontual do livro que retrata esse conceito em essência:

“[…] nada do que os outros fazem é motivado por você. É por causa deles mesmos. Todas as pessoas vivem em seu próprio sonho, em sua própria mente; estão num mundo completamente diferente do que aquele no qual vivemos. Quando levamos algo para o lado pessoal, presumimos que os outros sabem o que está em nosso mundo e tentamos impor nosso mundo ao deles. Mesmo quando uma situação parece pessoal, mesmo que os outros o insultem diretamente, não tem nada a ver com você.”

Assim, o que os outros pensam sobre você é o que pensam sobre eles mesmos e, de todos os compromissos, esse foi o que mais me possibilitou um amadurecimento pessoal, pois eu já sofri muito pensando “no que os outros iriam pensar”, sabe? Hoje, vejo nitidamente que a opinião dos outros (de quem não me conhece) sobre mim nada mais é que um espelho que resolveram colocar diante de si mesmos.

Sabe aquele ditado “Quando Pedro fala de Paulo, sabemos muito mais de Pedro que de Paulo”?. É exatamente isso.

Os quatro compromissos:
3 – Não tire conclusões

Conclusões nada mais são que um reflexo dos nossos pensamentos, dos nossos sentimentos , da nossa história de vida e da nossa perspectiva de mundo. É uma questão individual e que só diz respeito a cada um de nós e que, por isso, não pode ser tomada como verdade absoluta da humanidade.

Tiramos conclusões o tempo inteiro. Julgamos saber o que os outros estão querendo, fazendo  e/ou pensando. Julgamos uma pessoa pela roupa, um livro pela capa, um emprego pelo salário que oferece , um relacionamento pelas redes sociais, a índole pelo discurso e, ao tirarmos conclusões, estamos enviando veneno emocional com nossa palavra, gerando um caos desnecessário.

NOTA: Aqui, obviamente, estou falando sobre conclusões pessoais. Diante de indícios e provas, policiais e jornalistas investigativos podem – e devem – ter o compromisso com os fatos, ok? hahaha

Fazemos compromisso com a fofoca e, para os toltecas, esse é um compromisso de escuridão, de névoa, de desonra à sua própria palavra, gerando um caos desnecessário (é uma das partes mais gostosas do livro).

E uma pauta bem comum para tirarmos conclusões é “relacionamentos”. Eita como “sabemos” sobre a vida alheia pelas fotos do Instagram e do Facebook, né? Como julgamos felicidade na viagem internacional e tristeza na solidão da sala de casa… E mais: como “sabemos” o que o nosso parceiro quer, de fato, apenas com “um olhar apaixonado que nos decifra por inteiro”. Gente do céu… Não sabemos. Ninguém conhece o íntimo de ninguém. Conhecemos apenas o que o outro quer nos mostrar. E isso vale para cada um de nós também, tá?

Não sabemos as condições e os compromissos que os outros fizeram consigo mesmos, então não devemos olhar para essas pessoas com as nossas “lupas”.

“Essa é a maior presunção que o ser humano pode ter.Por isso, temos medo de ser nós mesmos em presença dos outros. Porque achamos que todos estarão julgando, nos vitimando, nos fazendo sofrer e nos culpando, como fazemos a nós mesmos.”

Neste compromisso, Miguel Ruiz ainda fala sobre a questão de ser quem somos para o outro, sem fingimentos, sem jogos, sem máscaras. Aborda o amor próprio de uma forma muito bacana.

Os quatro compromissos:
4- Sempre dê o melhor de si

Para o autor, esse é o compromisso que permite que todos os outros três sejam enraizados. Segundo ele, sob quaisquer circunstâncias, sempre dê o melhor de si. Nem mais nem menos, mas o melhor. Lembrando sempre que o melhor de hoje não é necessariamente o melhor de amanhã.

Quando damos o nosso melhor (em todos os âmbitos da vida, incluindo nós mesmos), aprendemos a nos aceitar. A aceitar os nossos limites e superações. E, com isso, aumentar a nossa consciência sobre nós mesmos.

Dar o melhor não é voltar esgotado do trabalho. Não é fazer uma hora de esteira na academia se você se sente bem com 30 minutinhos. Também não é deixar de fazer algo com medo de arriscar, com medo de errar ou de ser mal interpretado.  Dar o seu melhor não é, sob hipótese alguma,  esgotar o corpo ou a mente.

“Na verdade, fazer o melhor não parece trabalho, porque você gosta do que quer que faça. Sabe que está fazendo o melhor possível quando está apreciando a ação ou realizando-a de uma forma que não lhe provoque reações negativas. Você dá o melhor de si porque tem vontade, não porque precise, nem porque esteja tentando agradar ao Juiz, e não porque esteja tentando agradar a outras pessoas”.

E é incrível como, depois da leitura, começamos a nos policiar para aplicarmos os quatro compromissos no cotidiano, sabe? Minha percepção é a de que começamos a olhar mais para nós mesmos, a nos conhecer melhor e mais profundamente.

Vale muito a leitura. “Sem julgamentos, sem colocar todos os seus embasamentos profissionais em primeiro lugar.” ♥

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
03 de agosto de 2017

Li e recomendo (muito!): Para educar crianças feministas

Cotidiano

Desde que meu sobrinho nasceu, há pouco mais de dois anos, comecei a observar mais atentamente o comportamento discursivo dos adultos diante das crianças. Mais precisamente diante das associações feitas apenas pelo sexo das crianças.

Sendo apenas tia de um menino que ainda faz xixi na fralda, já pude perceber como o machismo é um ato de opressão que começa nos detalhes e está  completamente enraizado socialmente  Não foram poucas as vezes em que conhecidos e até mesmo familiares se referiram ao meu sobrinho como “um futuro pegador”, “que vai ganhar muito dinheiro para bancar tudo”, ou “que vai mostrar o pinto caso alguém lhe diga na rua que é gay”, enquanto via as mesmas pessoas se referirem às meninas da mesma idade como as “princesinhas” que vão “fechar as pernas”, “saber cozinhar” e “ter um bom marido”, amém!

Cheguei a chorar de raiva algumas vezes e fiquei me questionando se queria ser mãe numa sociedade que resume o papel do homem a um provedor, detentor do poder e sexualmente insaciável, e a mulher a uma simples “serva”, subserviente às vontades alheias (masculinas, obviamente), sabe?!

No entanto, ao mesmo tempo em que olhava ao redor e via aquilo se repetindo com os filhos e filhas  de amigas e de conhecidas, pensava: “Se um dia eu for mãe, de um menino ou de uma menina, quero que ambos entendam que homens e mulheres têm igual força na escolha das suas decisões. Quero que sigam seus caminhos olhando o outro de igual para igual. Sempre!”.

Foi dessa forma despretensiosa – e um pouco desiludida – que cheguei ao maravilhoso Para educar crianças feministas – Um manifesto – , de Chimamanda Ngozi Adichie.

Para educar crianças feministas

Para Educar Crianças Feministas – Um Manifesto

Escrito no formato de uma carta da autora a uma amiga que acaba de ser mãe de uma menina, Chimamanda destrincha 15 sugestões para criar uma filha feminista.

Longe de ser um livro cheio de regras ou doutrinas, Para educar crianças feministas é de uma leveza singular. De forma muito simples e gentil, a autora nos transporta ao passado e nos mostra como, muitas vezes, fomos – e ainda somos – vítimas de comportamentos machistas que nos acompanham todos os dias, desde formas mais sutis às mais severas.

Para educar crianças feministas 2

Esses comportamentos são tão, mas tão frequentes que já os associamos como “regras sociais” e pronto. Mas não são ou, pelo menos, não deveriam ser encarados de tal forma. No trabalho, na escola, na faculdade ou em qualquer lugar homens e mulheres (em qualquer idade) devem ser reconhecidos pelo que são e não pelo que a sociedade determinou o que era “de menino” ou “de menina”.

Para educar crianças feministas 3

Temas como a escolha das roupinhas, dos brinquedos, do direcionamento da comunicação para com conhecidos e desconhecidos, bem como assuntos sobre identidade pessoal, sexo, casamento, família e escolha da profissão são algumas das abordagens do livro, que defende que a mulher “não deve se preocupar em agradar a ninguém, apenas a ela mesma“.

Para educar crianças feministas 4

São 79 páginas (é bem pequenininho, li em uma hora e meia) de uma sensibilidade que merece ser compartilhada com mães, pais, tios, avós e parentes de meninos e meninas de qualquer idade.

Comprei o meu por R$ 11,90 na Livraria Escariz do Shopping Jardins, aqui em Aracaju, mas dá para encontrar online em livrarias como Saraiva e Cultura.

Alguém aí já leu o livro Para educar crianças feministas? O que achou?

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira