06 de maio de 2016

Namore alguém que te faça acreditar no amor

Crônicas

Se eu pudesse dar um único conselho sobre relacionamentos amorosos, ele seria “Namore alguém que te faça acreditar no amor”. Por uma semana, um mês, um ano ou a vida inteira, que seja, mas que te faça acreditar no amor.

Não nesse amor vendido pela Disney, por favor, porque amor real não é “feliz para todo o sempre”. Mas no amor que, vez em quando, tem turbulências e, apesar disso, decola na vontade insustentável de seguir em frente, feliz, consigo mesmo e com o outro.

Namore alguém que roube seus sorrisos num dia difícil e que faça você lacrimejar de emoção só de os seus olhos se cruzarem. Alguém que, ao lhe dar as mãos, também lhe aqueça a alma e, ao soltá-las um instante, garanta a segurança da sua liberdade. Alguém que te faça acreditar no amor.

acreditar no amor

Foto: @fdzpat)

Namore alguém que, diante da tempestade, saiba lhe oferecer a calma num gesto mínimo de carinho e de compreensão, num olhar, num abraço, num colo que conforta mais que qualquer travesseiro premium com pena de ganso. Alguém que ouça os seus medos, inquietações, e entraves, sem julgá-los ou diminuí-los. Alguém que simplesmente te faça acreditar no amor.

Namore alguém que te ache linda de saia longa ou de saia curta, de blusa com manga comprida ou com alcinha, de gola rolê ou de decotão. Alguém que, de uma vez por todas, tenha orgulho de te ver chamando a atenção pelo que você é quando está vestida de você mesma! Alguém que, meu Deus, te faça acreditar no amor.

Namore alguém capaz de te fazer sair da linha. Da concentração, da razão, do controle e, por alguns instantes, da sanidade (Por que não?). Mas que saiba te receber com beijos ardentes quando tudo voltar à normalidade. Alguém que, mesmo diante das discordâncias, te faça acreditar no amor.

Namore alguém que seja a sua melhor companhia e a sua maior saudade. Alguém que transite pelos seus sonhos mais altos e que seja seu chão, caso haja algum tropeço… Alguém que transborde amor, sobretudo nos gestos. Alguém que que te faça acreditar.

No amor.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
21 de março de 2016

Eu não morro de amores por chocolate e tudo bem

Crônicas

Eu nasci em pleno domingo de Páscoa e, por alguma ironia do destino, nunca morri de amores por chocolate. Sim, eu sou uma mulher que não faz auê por chocolates.

Antes de comentar “Não acredito!”, “Você não deve ser normal!”, “As pesquisas mostram que (insira aqui qualquer benefício proporcionado pelo chocolate) ou “Isso é porque você ainda não experimentou  (insira aqui os nomes belgas e suíços mais salivantes que conhece), acredite: sou normalíssima, confio nas pesquisas – embora muitas não funcionem comigo – e já experimentei chocolates belgas e suíços de primeiríssima.

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Imagem: Pinterest

Não adianta, não sou fã. Chocolate não me deixa feliz nem acelera o meu coração (prevejo cientistas querendo me estudar em 3…2…1). Aliás, a única coisa que ele acelera é meu estômago. Embrulha tudo e eu vou evitar descrições mais íntimas para não embrulhar o seu também, viu?!

Mesmo assim, experimento um ou dois a cada, sei lá, mês. E, para esse feito, é preciso insistir muito, fazer propaganda, dizer que é o melhor chocolate desse maravilhoso mundo de Oz e, claro, falar mostrar que é, no mínimo, meio amargo. Se disser que é docinho, fia, serei obrigada a recusar com aquela justificativa íntima do estômago…

Mas, como disse, eu como. Os meio amargos, amargos e super amargos. Algumas raras vezes, ao leite. Todos eles a mordidas largas. Às vezes, tão largas que o próprio chocolate desiste e passa da validade. É, já aconteceu…

Foi com o ovo de Páscoa Serenata de Amor tamanho 25 que ganhei do meu primeiro namorado. Quase um quilo de chocolate. Sem a serenata, mas com a proposta clara de uma glicose no topo do Monte Everest. Quase u-m-q-u-i-l-o-d-e-c-h-o-c-o-l-a-t-e. Romântico, eu sei, mas muito, muito doce!

Sorvete de chocolate? Não desce na garganta. Caixas de bombom? Sempre derretem. Biscoito recheado? Tiro o chocolate e como… o biscoito! Torta? “Um pedaço bem fininho, por favor!” Barras? Perdi as contas de quantas vezes já as esqueci na geladeira e, quando me deu aquela vontadezinha de tirar um pedacinho, os “donos” já haviam comido. Há séculos.

Mesas de doces de festas e casamentos? Acho todas lindas e maravilhosas! Mas só experimento se algum amigo garantir o “Não é de chocolate, pode provar!” ou “É de chocolate, mas não é enjoativo” (porque amigo que é amigo sabe das nossas intimidades, dos nossos embrulhos no estômago…).

E, por falar em amigo, sei que muitos me contestarão aqui com o argumento do brigadeiro (que, segundo eles, sei fazer o melhor do mundo!). Sou sim, apaixonadinha por brigadeiro, como de colher e tudo o mais, mas é aquela coisa: um já me satisfaz a alma. Passou disso, satisfação passa a não fazer parte do contexto.

Pronto, eis a única uma coisa da qual sou verdadeiramente desapegada nesta vida: chocolate. E como tenho isso muito bem resolvido em mim, não vou precisar levar o caso para a terapia.

Tudo bem, sou desapegada, mas raras vezes também sou abduzida pelo espírito do meio amargo, do brownie com queijo, do creme de avelã, das nozes e do licorzinho de cereja. Ah, claro, e do chocolate quente! ♥ Mas daquele jeito: um ou dois, sei lá, por mês.

E o mês, esse ano, pode ser março. Vai que há pesquisas…

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
10 de março de 2016

Sobre os sustos que nos engrandecem

Crônicas

Há sustos que cessam apenas soluços. São os famosos “Booooo” seguidos de gritos histéricos e pulos desordenados que mais nos irritam que, de fato, surtem efeito. No máximo, fazem o nosso coração acelerar um pouquinho e só. Em dez segundos, voltamos ao normal.

Há outros, um tanto mais graves, que chegam a cessar a vida. Provavelmente, foram dados em doses homeopáticas e imperceptíveis ao longo doa anos, fazendo com que, diante de uma dose extra, o coração acelerasse além da conta. Em dez segundos, colocamos o ponto final da nossa história. Partimos para outra.

Mas há sustos que cessam o nosso olhar diante do mundo e, por vários segundos, nos dão a chance de uma reflexão sobre o que verdadeiramente queremos para a nossa vida. Normalmente, são os sustos de uma doença, de uma demissão, de uma perda. São os sustos das mudanças que não estavam (e nunca estão) nos nossos planos, mas são os sustos que nos amortecem para o impacto seguinte: decidir seguir apesar de.

sustos - valentina contreras

Ilustração: Valentina Contreras

Apesar de um diagnóstico ruim, de um relacionamento rompido, de um emprego que não deu certo, de uma mala extraviada, de uma despesa de última hora, de pessoas que sugam nossas energias, de uma despedida sofrida e inesperada, de um arrependimento, de uma mágoa… Apesar de qualquer susto de mudança, sigamos.

Sigamos para que possamos responder com mais rapidez as dúvidas que o susto nos deixou. Certamente, dúvidas que já permeavam a nossa mente, mas protelávamos suas respostas em virtude do tempo que julgávamos ter.

Sustos assim nos fazem reconsiderar a importância que damos às coisas e às pessoas. Muitas vezes, surgem de forma cruel, eu sei, mas são aprendizados que jamais teríamos com o coração batendo tranquilo e conhecidamente musicado.

Sustos assim nos fazem olhar para dentro, reconhecer o que há de mais importante, identificar o que nos é necessário e perseverar. Na fé, na cura, no amor, no novo emprego, nos sonhos, nas boas surpresas, na mudança e na vida.

Porque sustos, quando não nos tiram a vida ou o soluço, engrandecem.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira