15 de junho de 2023

Li e recomendo: Um dia, um cão – Gabrielle Vincent

livros

Não sei bem se posso dizer que li um livro inteiramente desenhado – e não escrito – a grafite , mas “Um dia, um cão” me trouxe a consciência de que precisava no momento em que mais precisava: nem tudo se diz com palavras.

Quando Gabrielle Vincent desenha um dia de um cão abandonado na estrada, ela nos coloca num cenário bastante incomum nos dias atuais, observar com calma tudo o que está ao nosso redor e entender que cada um tem um lugar único no mundo.

Qual seria o lugar de um cão? Para alguns, dentro de casa; para outros, um quintal ou até mesmo a rua. Mas e se perguntássemos a ele, que não se expressa nem se comunica através das palavras, que lugar seria esse?

Até me deparar com esse livro, eu poderia jurar que o lugar favorito da Zoé era o mar. E, por isso, tantas vezes acordei ainda na madrugada para levá-la à praia e ver o sol nasscendo, na esperança de que aquilo era a verdadeira felicidade para ela. Não que não seja, claro, porque ela aaaaama estar no mar, correr na areia, pular ondas e me olhar num silêncio que me dizia tudo e me diz sempre: sou feliz!

Em mares de grafite que viram ruas, que viram céus que viram chuvas que viram aves e que viram o que o seu coração consegue alcançar, “Um dia, um cão” é um caminho sem volta para se permitir olhar para dentro e para as relações, sejam elas humanas ou multiespécies. Com calma, atenção e empatia. <3

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
11 de julho de 2018

Pode chorar, menina…

Crônicas

Pode chorar, menina. Eu sei que tudo parece estar confuso e desmoronando, mas logo logo você vai reerguer o seu mundo, tijolinho por tijolinho.

Não vou lhe dizer que vai ser em horário comercial, com folgas divertidíssimas nos finais de semana. Aliás, talvez seja um trabalho bem mais puxado e sofrido aos finais de semana, mas você ainda lembrará desses momentos com carinho.

Se vai demorar? Queria poder lhe dizer isso agora, mas, acredite, essa é a parte que menos importa. Apenas preste atenção a tudo o que encontrar no caminho. Coisas muito valiosas aparecerão por lá trazendo todas as respostas.

pode chorar menina 1

Cena do filme “Meu primeiro amor” | Imagem: Reprodução

Você vai precisar de paciência para alinhar os tijolos, colocar o cimento na quantidade certa e não ignorar os pedaços quebrados que irá encontrar, pois eles serão úteis em alguns momentos. Também vai precisar de coragem para enfrentar furacões, chuvas e tempestades, mesmo quando tudo estiver lhe parecendo firme e seguro. E vai precisar de uma bela dose de sabedoria para fazer as mudanças necessárias, lembrando-se sempre de preservar o seu alicerce.

Não tenha medo nem duvide do que lhe foi dito algum dia. Era tudo muito bonito mesmo. Na verdade, sendo bem sincera, sempre vai ser. Acontece que o tempo tem umas manias não tão perfeccionistas assim e, vez ou outra, leva todas as nossas certezas ao chão … Na queda, umas se quebram, mas outras servem para reerguer tudo ao seu redor, tijolinho por tijolinho.

No meio da multidão, saiba reconhecer os seus valiosos amigos. Você irá se surpreender! Faça festas, desabafe, ouça, avalie. Mas, antes de tudo, converse com você, saia com você, divirta-se com você. Vá à praia, ao cinema, ao teatro e viaje com você. Tenha certeza de todas as suas necessidades e não caia nessa onda boba de, a qualquer custo, “seguir o baile”.

Já pensou se toca reggae nesse baile? Você odeia raggae, minha filha, então pegue um táxi e, pelo amor de Jah, vá embora! Não se sinta obrigada a dançar num ritmo que não é o seu porque “é o que todo mundo está dançando”. Lembre-se do que lhe ensinaram: “você não é todo mundo!” O baile que te siga, oras!

Que bom te fazer rir um pouquinho com a história do raggae. De tudo o que você mostra e oferece ao mundo, seu sorriso é a coisa mais contagiante e eu espero que você se lembre de tantos outros momentos felizes que viveu antes de tudo isso desmoronar.

Vai ficar tudo bem, eu prometo. Enquanto isso, encoste mesmo sua cabecinha nesse sofá e chore. Ele vai ser aquele esconderijo que você sempre quis na infância, o melhor lugar do mundo para as suas lágrimas, os seus sonhos e os seus suspiros. Pode chorar, menina. Por dias. Por meses. Por agora. Apenas chore.

Qualquer dia desses, volto pra você me escrever com doçura e carinho sobre os muros que reconstruiu com essas lágrimas. Do mesmo sofá, mas sem chorar.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
01 de julho de 2018

Aos domingos, com carinho

Crônicas

De todos os dias da semana, domingo é aquele que me faz cafuné na alma. É o dia em que aproveito o silêncio das ruas para ouvir com atenção o que pulsa aqui dentro; é o dia em que olho com cuidado e carinho para todas as versões de mim mesma e para tudo o que foi construído até aqui através delas; é o dia em que, ao abrir os olhos, sem sair da cama, ainda tenho a inocente mania de fazer planos “infalíveis” para uma vida inteira. Quem nunca? Eu, aos domingos.

aos domingos - com carinho

Não faço a menor ideia de como nasceu esse meu “ritual”, mas me lembro muito bem de fazê-lo na adolescência e de desenvolvê-lo despretensiosamente ao longo dos anos, a ponto de se transformar na coisa mais gostosinha da minha rotina e de me fazer muito feliz. ❤️

Aos planos “infalíveis”, fui acrescentando o meu chocolate quente, a paciência para com os meus defeitos, algumas músicas para aquecer o coração, um bom livro e um pequeno arsenal de cremes para cuidar da cútis (coisa que aprendi com a CAPRICHO e que me rendeu um ótimo resultado, só pra você saber, ok?).

Acho bonito reunir num dia tão leve tantas versões de mim mesma, sem desmerecer ou priorizar qualquer uma delas.

A menina que, mesmo ciente dos atropelos da vida, não perde a essência de sonhar deve andar de mãos dadas com mulher que pisa firme pelos caminhos que escolheu. Uma não se constrói sem a outra. Ninguém anda sem as melhores versões que fez de si.

Aos domingos, também olho com doçura para o tempo, para o riso e para o pranto. Observo com atenção como se encaixam perfeitamente e, ao final, fazem tudo ter sentido.

Vibro com as coisinhas mais simples, danço pela casa sem preocupação, canto em voz alta, ligo para alguém especial, como um doce e, claro, também me recolho no sofá e choro pelas tantas saudades que apertam o peito. Quem nunca? Eu, aos domingos.

É o dia do balanço na rede, do almoço delicinha, do banho demorado, do cheirinho de lavanda, do tempo ao tempo e do “fazer nada” que vale muito.

Aos domingos, com carinho. Quem nunca?

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira