03 de junho de 2015

O fim da CAPRICHO e uma adolescência em flash back

Cotidiano

A Editora Abril anunciou o fechamento daquela que, desde a década de 1950, foi considerada a maior revista feminina do Brasil, a CAPRICHO.

É verdade que a internet proporcionou um outro panorama no que diz respeito à informação e que o mercado editorial brasileiro passa por uma grande crise, mas –sendo bem honesta e realista – esses não são os motivos que levam ao fim uma revista, principalmente uma revista que se sobrepôs a trancos e barrancos numa época em que a mulher – seu público-alvo – sequer tinha seus direitos questionados.

Bom, eu poderia escrever linhas a fio sobre esse lado da questão (na verdade, eu fiz isso na minha monografia, intitulada “Do fútil ao necessário: uma abordagem da Revista CAPRICHO sobre a perspectiva das adolescentes”), mas vim aqui para falar sobre o encerramento de um meio de comunicação que fez – e fará – parte da vida de tantas mulheres.

Lembro-me como hoje da primeira CAPRICHO que comprei e da minha felicidade ao folhear a revista. Queria ler tudo de uma vez, mas naquele cuidado que a gente tem com as coisas valiosas, sabe?! Na capa, uma chamada sobre como conquistar o menino dos seus sonhos; na entrevista principal, Valéria Piassa Polizzi, uma garota que pegou AIDS do primeiro namorado e escreveu o livro “Depois daquela viagem” (se ainda não leu, vale imensamente!).

Passei a adolescência lendo sobre os meus ídolos da época (leia-se Sandy), moda, beleza, comportamento e sexo. Fiz mais testes da revista do que os da escola + faculdade + pós-graduação + mestrado. Reunia as amigas num cantinho da quadra do colégio (Anne, Danny e Vanessa, beijo!) para ler a mais nova edição, comentar, trocar ideias. Ia na casa das vizinhas mais velhas (Lu e Juciara <3) ler todas que eu ainda não tinha visto. Minha vida não era a CAPRICHO, mas a CAPRICHO era parte da minha vida, sim!

Quantas de vocês falaram sobre sexo ou drogas com os pais de vocês? Quantas tiveram uma melhor amiga para tirar dúvidas sobre o primeiro beijo ou a primeira transa? Quantas puderam compartilhar medos e sonhos com alguém? É fácil avaliar namoro, sentimentos, anseios e incertezas de quem tem 15 anos com olhos de quem já passou pela experiência e sabe que, no final, nada tem a dimensão do que realmente parece. Acontece que, aos 15 anos, não estamos no final, estamos no começo.

Isso era tão evidente para mim que briguei com o departamento inteiro de Jornalismo da universidade para mostrar que, de fútil, a única coisa que eu via era o excesso de preconceito das pessoas. Foi difícil porque os acadêmicos da área só querem saber de jornal impresso e TV. Falou em revista e em revista para mulher… ninguém dá a mínima!

Mas por quê?

Você está no consultório esperando ser chamada por horas. Qual a primeira coisa que procura? Uma revista. Você vai viajar e, mesmo ouvindo a musiquinha no celular, o que compra na primeira banca que encontra? Uma revista. Confesse: “Vi num site”, ainda que seja renomadíssimo, nunca será a mesma coisa de um “Vi numa revista”. Nunquinha mesmo.

Revista é o meio de comunicação que mais se entrelaça com o leitor. É um caso de amor impresso no papel, documentado, fácil de ser levado aonde quiser. É por isso que dói quando acaba.

E eu aposto todas as revistas que me restam se você – de 20 a 35 anos – não está aí de coração partido por não ter um exemplarizinho para contar história.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
Escreva seu comentário

* Preenchimento obrigatório. Seu email não será divulgado.
Quer que sua foto apareça no comentário? Clique aqui
Comente pelo facebook
2 comentários
  1. Bela eulogia. Uma pena que a editora Abril como um todo esteja minguando a olhos vistos e hoje seja apenas uma sombra do que foi nas últimas décadas do século XX. :-(

    • Pois é… :( Vou sentir saudade da sua coluna e das melhores respostas aos micos teens! Os meus nunca foram respondidos… Hahaha Beijo!!!