01 de abril de 2017

Seja bem-vindo, Abril

Cotidiano

Virar a folha do calendário para a chegada de Abril é algo que sempre me aquece o coração. Fico olhando para todos aquelas datas e dias da semana como quem vê algo fascinante pela primeira vez e, assim, começo a pensar em tudo o que me aguarda no mês que eu mais aguardo. Afinal de contas, “faltam 21 dias para o meu aniversário!!!!”

Acho que repito essa frase desde o dia em que aprendi a fazer conta. Inclusive, alguns dos meus amigos e familiares também a repetem antes mesmo de eu acordar no dia 1º de abril para me lembrar que, siiiiiiim, eles também estão lembrados! 😂😂😂 (#chegadia22)

E isso me faz pensar que é exatamente essa conexão entre pessoas queridas que torna esse mês tão especial pra mim. Um mês de reflexões, de sorrisos sinceros, de abraços apertados, de lágrimas de saudade e de lembranças – incríveis – guardadas na memória. Um mês de (re) construções, desapegos e novas caminhadas. Um mês de tranquilidade no coração e de muitos, muitos motivos para comemorar.

Mais uma vez (e por todas as vezes), seja bem-vindo, Abril!

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
14 de março de 2017

Sobre minha experiência com o anticoncepcional, menstruação e endometriose

Cotidiano

Falar sobre anticoncepcional é praticamente chamar para guerra toda uma espécie chamada mulher. Há as que condenem veementemente a utilização do medicamento, há as que o defendam com unhas e dentes e há as que permeiam entre dúvidas, muitas delas por falta de informação ou relatos incompletos de terceiros.

De forma geral, acompanho o máximo possível de discussões sobre o tema e compreendo todas as suas vertentes, sem julgar qualquer uma delas. Acho que cada uma de nós tem os seus motivos para concordar, discordar ou relutar quanto ao uso de qualquer substância medicamentosa.

anticoncepcional - elani 3

No entanto, vejo que, apesar da informação, muita gente ainda trata o tema como tabu. Por isso, resolvi falar abertamente sobre a minha experiência com anticoncepcional. Mais precisamente com o Elani e o Qlaiara, que foram os dois medicamentos que usei até hoje.

Mas antes de falar como cheguei a cada um deles, seus efeitos e minhas impressões,  acho necessário fazer algumas pontuações.

Um breve relato sobre a minha menstruação

Minha primeira menstruação veio numa tarde de novembro de 1996, aos 12 anos. Eu já havia sido informada de que ela poderia chegar a qualquer momento, então não tive neuras com isso. Acontece que, desde o primeiro ciclo – que sempre foi bem regular -, meu fluxo era muito longo. No mínimo, oito dias, mas já chegamos a nos fazer companhia por 16!

Nessa época, o fluxo não era tão forte, exceto pelo segundo dia, que me impossibilitava de sair da cama sem ter sujado, no mínimo, a calcinha, o short e o lençol… Mas todo mundo dizia que era “assim mesmo” e acabei ficando nessa situação por uns bons anos…

Endometriose – o início de tudo

No finalzinho de 2008, meu fluxo já era de uns cinco dias, no máximo. No entanto, aquele meu segundo dia da menstruação, que já era tenso, começou a ficar verdadeiramente insuportável.

Sentia minhas pernas muito pesadas e um fluxo muito forte. Qualquer movimento diferente causava um vazamento sem igual. Não tinha cólicas abdominais. Toda dor era concentrada nas pernas. Eu não conseguia ir ao trabalho, ficava horas deitada na cama, sem motivação até para as coisas de que gostava. Era só nesse dia, mas era péssimo.

Foi então que meu ginecologista suspeitou de endometriose, que – de forma muito grosseira – nada mais é que uma doença na qual o endométrio (parede que reveste a parte interna do útero) não é expelido na menstruação, podendo se firmar em outras partes do corpo, tais como ovários, intestino, reto, bexiga, parte externa do útero, dentre outras, podendo (po-den-do, não é a regra, tá?!) provocar infertilidade.

Suspeitou porque, na época, eu ainda era virgem e o único exame “ginecológico” que eu fazia era a ultrassonografia pélvica. No entanto, nessa ultrassonografia já apareciam alguns pequenos focos de endometriose na bexiga e num dos ovários.

Assim, fui conduzida a uma videolaparoscopia que constatou outros mínimos focos no reto e no intestino.

Anticoncepcional continuado: e agora?

Durante as várias conversas antes da cirurgia, já havia sido informada pelo meu médico que o tratamento posterior seria o anticoncepcional continuado (sem interrupção), a fim de evitar novos focos da endometriose.

Sempre fui muito avessa à ingestão medicamentosa e ter o anticoncepcional como obrigação diária me deixou um pouco frustrada. Eu não queria – mas tinha – que tomar remédio, sabe? Todo santo dia, com pausas de seis em seis meses.

Pensei nos riscos hormonais, no aumento de peso, nos efeitos colaterais, numa possível trombose… Na minha cabeça,eu estaria me drogando loucamente a troco de uma cobrança cultural na qual eu “teria que preservar meu útero para quando decidisse engravidar”.

Meu ginecologista ouviu todos os meus questionamentos e foi super responsável. Passou todos, tooooodos os exames hormonais e de trombofilia necessários para decidirmos, juntos, qual seria a medicação mais adequada.

Elani 28- meu primeiro anticoncepcional

Como todos os meus exames de trombofilia deram normais e livre de riscos, naquele momento, o anticoncepcional escolhido foi o Elani 28, que é uma combinação de dois hormônios (estrogênio e progesterona) em 28 comprimidos, ingeridos de forma continuada.

anticoncepcional -elani 1

Sei – e li muito – que esse é o tipo de medicamento que mais afeta as mulheres em questões de trombofilia, mas, como disse, eu fiz todos os exames necessários e estava “apta” a usar o medicamento. Portanto, reitero a importância de sempre cobrar mesmo do seu médico todos os exames para iniciar uma cartela de anticoncepcional, tá?

Usei o Elani 28 de 2009 a meados de 2012. Não tive enjoos, tonturas, aumento de peso ou qualquer outro efeito colateral. Lembro de, nas duas primeiras semanas, sentir a pele e o couro cabeludo um pouco mais oleosos, mas depois ficaram simplesmente lindos! De todo mundo elogiar mesmo, juro! Acho que, por isso, é utilizado no tratamento contra acnes e alguns outros problemas de pele.

Acontece que, nem tudo o que é bom dura para sempre, né?!

No meio de 2012, só de olhar para a caixa sentia uma ânsia de vômito gigantesca. Era algo surreal. Chegava a vomitar algumas vezes só de lembrar que teria que tomar o remédio e não, não estava grávida. Posteriormente, descobri que esses comprimidos eram revestidos por uma espécie de talco e que essa era uma reação bastante comum a esse componente.

No entanto, não dava mais…

Qlaira – minha segunda experiência com  anticoncepcional

A alternativa encontrada para dar continuidade ao meu tratamento, então, foi o Qlaira, também uma pílula combinada de estrogênio e progesterona.

anticoncepcional - qlaira 2

Imagem: divulgação

No entanto, o Qlaira se diferencia dos demais medicamentos do tipo por ser o único com Valerato de Estradiol, um componente idêntico ao estrogênio produzido naturalmente pelo organismo feminino. Assim, o Qlaira seria a alternativa mais “natural” para seguir adiante no combate à endometriose.

Ele tem um sistema mais rigoroso de ingestão. Existe um momento da cartela em que, se você esquecer de tomar um dia, tem que recomeçar (há uma tabelinha na própria caixa explicando o que fazer em cada dia caso ocorra esquecimento). E, sinceramente, desperdiçar uma cartela de quase R$ 50 é de chorar, viu?!

Fora que, nesse esquecimento, muitas vezes ocorre um escape (um pequeno sangramento), que é muito comum com qualquer pílula. Mas como o Qlaira tem uma dosagem ainda menor, esse sangramento acaba vindo mais rápido, sabe?

Usei o Qlaira do meio de 2012 até janeiro deste ano, ou seja, por quase cinco anos. Durante todo esse período, também não tive enjoos, vômitos, problemas de pele ou couro cabeludo. No entanto, no meio de algumas cartelas, ficava bastante irritada e sentia algumas dores de cabeça que nunca me foram comuns. Nem por conta da minha alta miopia.

Nos últimos quatro meses, também comecei a sentir o meu corpo inchado e, do nada, um aumento de quatro quilos! Quatro quilos em quatro meses para quem sempre pesou 48 kg.

Eu não havia mudado em nada a minha alimentação e conheço muito bem o meu corpo para acreditar na máxima de que “depois dos 30, é assim mesmo…”

Poderia ser assim mesmo com o corpo de qualquer uma, mas eu sabia que, com o meu, tinha algo de muito errado. Não havia justificativa para um inchaço tão repentino, já que uma gravidez estava completamente descartada.

Estava me sentindo super gostosa, confesso, com um corpo que eu NUNCA tive. Mas, no fundo, sabia – e sentia – que aquilo era um verdadeiro problema. Então decidi suspender o Qlaira ao final da cartela.

Elani 28- de volta ao início

Liguei para o meu médico e perguntei se poderia retomar o tratamento com o Elani sem problemas. Ele me garantiu que sim e, no mesmo instante, comprei o anticoncepcional.

anticoncepcional -elani 2

Em uma semana e meia, perdi três dos quatro quilos que ganhei repentinamente. Ao final do primeiro mês da cartela, perdi mais um. Sem contar na retenção de líquido e nas dores de cabeça, que voltaram a ser praticamente zero. Ou seja, há quatro meses, meu corpo vinha dando sinais claros de que eu precisava mudar e eu, mais uma vez, fico bastante orgulhosa – e aliviada – de ter acreditado nele em vez da crença generalizada de que “todo corpo após os 30 é assim mesmo”. Vai nessa…

Continuo usando o Elani e espero não ter problemas tão cedo com o talco de revestimento dos comprimidos, pois, tirando isso, ele sempre me foi bastante confortável.

Continuo fazendo acompanhamento para ver se há focos de endometriose, mas todos os exames mostram que não há nadinha de anormal por aqui. A medicação é para controle mesmo.

Conclusões

Por tudo o que relatei, faço questão de ressaltar os cuidados na escolha do anticoncepcional e do médico que irá te acompanhar ao longo de todo o tratamento para o qual o seu medicamento foi indicado.

No meu caso, é preciso escolher entre o anticoncepcional e uma possível nova cirurgia, já que sem a medicação os focos dá endometriose podem voltar. Dentre os dois, fico com a primeira opção. Não, não é uma escolha fácil. Eu preferiria mil vezes não tomar remédios, mas não condeno a utilização do medicamento.

Não acho que anticoncepcionais sejam apenas vilões. Se usados corretamente, podem auxiliar – e muito! – nos mais diversos tratamentos. A questão é que muitas (muitas mesmo) mulheres tomam os comprimidos de forma aleatória, sem exames de trombofilia e de hormônios, sem consultas a um especialista, sem sequer lerem a bula!

Aliás, por falar em bula, sabiam que a de um antiinflamatório causa mais pânico que a de qualquer anticoncepcional? Leiam aí…

Sei que muitas garotas têm medo/vergonha de pedir ajuda, sendo mais fácil ler os relatos na internet ou perguntar à amiga/prima/vizinha qual o anticoncepcional que elas usam. Mas isso pode ser um grande perigo.

Como disse, quis relatar a minha experiência com anticoncepcionais. O Elani foi bom até a minha rejeição ao talco do revestimento. O Qlaira também me foi eficiente por um certo período…

Acho que, em se tratando de medicação, em algum momento, todas elas alertam o nosso corpo de que têm prazo de validade,né?! E, se a gente prestar bem atenção, dá para sentir.

Alguém aí teve uma experiência parecida? Conte aqui nos comentários ou escreva para contato@deixemecontar.com.br Quero muito conhecer a história de vocês com o anticoncepcional.

Beijo.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
09 de março de 2017

E se você tivesse que dizer quem é numa única foto?

Crônicas

Quarta-feira à tarde, cheguei do trabalho super cansada e resolvi tirar um breve cochilo no sofá. O que me parecia uma alternativa de descanso, no entanto, tem me deixado eufórica até agora. Eu sonhei que estava conversando com Deus. Sim, com Deus.

Era uma sala de espera e alguém me dizia que eu tinha uma hora para falar com ele. Mal criada, já fui logo dizendo que era muito pouco tempo, uma vez que eu tinha “muita coisa importante para resolver”. (Foi só um sonho, eu sei, mas até agora estou profundamente envergonhada de ter respondido dessa forma…).

“Neste momento, que tem que resolver coisas com você é ele”, disse a pessoa de cuja fisionomia não me recordo.

Gelei. E ainda gelo só de relembrar. Seria Deus querendo me avisar quando eu partiria dessa para (?) melhor? “Não quero saber. Não quero saber. Não quero sabeeeeer!”

Entro na sala. Não vejo ninguém, mas percebo que todas, TODAS,  as minhas fotos estão espalhadas numa mesa super gigante. De repente, ouço uma voz atrás de mim:  “Se você tivesse que dizer quem é numa única foto sua, qual delas escolheria?”

Não pensei duas vezes em escolher esta:

jessica vieira - deixemecontar

Junho de 1986 – eu, aos dois anos de idade

Nunca soube explicar, mas dentre todas as fotos da minha existência essa é a que me deixa mais feliz. É  a primeira que mostro quando alguém me pede para ver meu álbum de infância, sabe?

É para ela que olho quando estou triste, quando estou com saudade de algo ou quando estou muito, muito feliz. É ela que mais conversa comigo. É ela que me remete a uma felicidade genuína, com tão pouco. É para ela que olho quando penso, ainda que por um segundo, em desistir de algo. É ela que enche o meu dia de ternura e vontade de viver ainda mais. ♥

Ouvi uma risada fraternal e, logo em seguida, uma próxima pergunta. “Agora, mostre a foto que te traz uma lembrança inesquecível”.

Sorri sozinha e lhe mostrei a foto da primeira vez em que vi a neve:

valle nevado e farellones

Senti uma mão na minha cabeça e, por alguns segundos, um silêncio. Em seguida, “Você consegue enxergar que são duas fotos idênticas? Aconteça o que acontecer, é nelas que você precisa acreditar. Nelas.”

Acordei  e fiquei incrédula. Só conseguia pensar que havia sonhado com Deus. Sei que muita gente não acredita. Sei que “Freud explica”. Sei que pode ter sido um acúmulo de sensações do meu dia cheio. Sei que pode ter sido uma necessidade minha de verbalizar, em sonho, algo que tem mexido bastante comigo… Sei de tudo isso.

E sei também que o espaço entre as duas fotos nunca mudou a minha vontade genuína de realizar sonhos. É neles que eu verdadeiramente acredito. :)

E se você tivesse que dizer quem é numa única foto, qual ela seria?

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira