Se você mora ou já esteve em Aracaju, não é novidade que o atendimento na cidade, de forma geral, é tragicômico. De “Vá falando que eu estou ouvindo” a um simples “Diga!” – sem passar por uma resposta ao seu sonoro “Bom dia!” – tudo pode acontecer.
Sinceramente, não sei o que acontece quando as portas das lojas, bares, restaurantes, órgãos públicos, escolas, hospitais e supermercados se abrem. Parece que, nesses lugares, todo mundo anda vendendo rancor e indiferença num verdadeiro combo “Leve cinco, pague um”.
Tenho consciência de que a oferta não é exclusiva da nossa “Pequena”, até porque nela também encontramos quem venda algo raro e de grande tamanho: gentileza.
Na recepção de um hospital, enquanto eu estava sendo atendida por mais uma “Espere aí um pouquinho, vou só responder [essa mensagem] aqui”, uma senhora de sessenta e poucos anos cumprimentou a atendente vizinha a minha e lhe perguntou se era possível localizar um médico que trabalhou naquele lugar há quarenta anos.
Entre o “Impossível, né?! Isso faz muito tempo e ele, inclusive, já pode ter morrido” da atendente que segurava o meu RG e o “É que eu queria agradecer por tudo o que ele fez pelo meu filho, que faleceu essa semana” da senhora visivelmente angustiada, um silêncio ensurdecedor.
“Vou descobrir para a senhora”, disse a outra atendente.
Cinco ligações, três funcionários envolvidos, quarenta anos de dúvidas e uma hora de espera até o nome do médico que a senhora buscava. Ufa! Mal vi o tempo passar enquanto a minha solicitação de exames ainda estava sendo processada…
Na verdade, vi o tempo passar leve diante de tamanha gentileza.
Trabalhar com o ser humano, definitivamente, não é fácil. Eu mesma já perdi as contas de quantas vezes saí de casa sem a minha paciência. Mas o dia fica ainda mais difícil quando levamos na bolsa insatisfações, amarguras, ressentimentos e frustrações que não dizem respeito a qualquer outra pessoa que não sejamos nós mesmos.
Gosto – e valorizo muito – de quem atende o outro livre de pesos. Seja lá qual for a profissão. Leveza prospera.
Talvez, quando as portas das lojas, bares, restaurantes, órgãos públicos, escolas, hospitais e supermercados se abrirem – em Aracaju e em todo o Brasil – falte apenas fixar um conceito de mão dupla.
Atender não é apenas dar o preço, o cardápio, o endereço, o protocolo, o período de matrícula, o diagnóstico ou o recibo. É receber o dinheiro, a satisfação, o encontro, a certeza, a confiança, a determinação e o agradecimento.
Atender não é para todo mundo, mas, em algum momento da vida, será minha, sua, nossa função.
Na sua vez, favor atender com gentileza. De preferência, “5 por 1”.
Obrigada!