19 de outubro de 2015

Favor atender com gentileza

Crônicas

Se você mora ou já esteve em Aracaju, não é novidade que o atendimento na cidade, de forma geral, é tragicômico. De “Vá falando que eu estou ouvindo” a um simples “Diga!” – sem passar por uma resposta ao seu sonoro “Bom dia!” – tudo pode acontecer.

Sinceramente, não sei o que acontece quando as portas das lojas, bares, restaurantes, órgãos públicos, escolas, hospitais e supermercados se abrem. Parece que, nesses lugares, todo mundo anda vendendo rancor e indiferença num verdadeiro combo “Leve cinco, pague um”.

Tenho consciência de que a oferta não é exclusiva da nossa “Pequena”, até porque nela também encontramos quem venda algo raro e de grande tamanho: gentileza.

gentileza

Fonte: Estúdio Cão

Na recepção de um hospital, enquanto eu estava sendo atendida por mais uma “Espere aí um pouquinho, vou só responder [essa mensagem] aqui”, uma senhora de sessenta e poucos anos cumprimentou a atendente vizinha a minha e lhe perguntou se era possível localizar um médico que trabalhou naquele lugar há quarenta anos.

Entre o “Impossível, né?! Isso faz muito tempo e ele, inclusive, já pode ter morrido” da atendente que segurava o meu RG e o “É que eu queria agradecer por tudo o que ele fez pelo meu filho, que faleceu essa semana” da senhora visivelmente angustiada, um silêncio ensurdecedor.

“Vou descobrir para a senhora”, disse a outra atendente.

Cinco ligações, três funcionários envolvidos, quarenta anos de dúvidas e uma hora de espera até o nome do médico que a senhora buscava. Ufa! Mal vi o tempo passar enquanto a minha solicitação de exames ainda estava sendo processada…

Na verdade, vi o tempo passar leve diante de tamanha gentileza.

Trabalhar com o ser humano, definitivamente, não é fácil. Eu mesma já perdi as contas de quantas vezes saí de casa sem a minha paciência. Mas o dia fica ainda mais difícil quando levamos na bolsa insatisfações, amarguras, ressentimentos e frustrações que não dizem respeito a qualquer outra pessoa que não sejamos nós mesmos.

Gosto – e valorizo muito – de quem atende o outro livre de pesos. Seja lá qual for a profissão. Leveza prospera.

Talvez, quando as portas das lojas, bares, restaurantes, órgãos públicos, escolas, hospitais e supermercados se abrirem – em Aracaju e em todo o Brasil – falte apenas fixar um conceito de mão dupla.

Atender não é apenas dar o preço, o cardápio, o endereço, o protocolo, o período de matrícula, o diagnóstico ou o recibo. É receber o dinheiro, a satisfação, o encontro, a certeza, a confiança, a determinação e o agradecimento.

Atender não é para todo mundo, mas, em algum momento da vida, será minha, sua, nossa função.

Na sua vez, favor atender com gentileza. De preferência, “5 por 1”.

Obrigada!

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
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2 comentários
  1. laize

    Em primeiro lugar meus parabéns por seu blog. Admiro seus textos e tô quase virando sua fã, ( digo quase por que vez ou outra leio suas publicações). AMEI ESTE TEXTO, de fato não podemos perder com ressentimentos quando sabemos que podemos dar o nosso melhor sempre, que Deus te abençoe. :)

    • Laize, que comentário mais querido! 😍😍😍 Muito obrigada pelo carinho e pela atenção! Fiquei super feliz! Um grande beijo! 😘