Dos gênios da humanidade, Alexander Graham Bell tem a minha total admiração. Criou um aparelho que encurta distâncias, aproxima pessoas e capta sentimentos apenas pela transmissão da voz. Aparelho sem o qual nem sei como essa pessoa que vos escreve sobreviveria: o telefone.
Sempre gostei de falar ao telefone. Por horas. Tenho tanta necessidade de verbalizarão que fui, inclusive, aquela criança/adolescente que sabia ligar para as amigas mesmo com o aparelho trancado com chave ou cadeado…
Se as pessoas estão longe, é o telefone que mata a saudade, mas me parece que ele tem matado muito mais que isso ultimamente. Tem matado a privacidade dos que vivem e, acreditem, dos que morrem.
Vimos o telefone perder o fio, ganhar mobilidade, ficar sob os nossos olhos 24h por dia. O que era para aproximar, distanciou o próprio ser humano da humanidade.
Há uns anos, fiquei estarrecida quando li manchetes de jornais anunciando o suicídio de jovens que tiveram suas transas filmadas e disseminadas por um celular. A vergonha os teria levado à morte.
Semana passada, recebi o vídeo em que dois funcionários mostraram – com zombaria – o corpo do cantor Cristiano Araújo sendo preparado para o velório. Diante de um celular, a própria morte perdia sua capacidade de amedrontar. Quem diria…
Em frente a uma tela de celular – onde antes eram apenas números – trocamos o falar pelo enviar. Perdemos as horas de atenção ao próximo, o bom senso, a vergonha, a paciência e o respeito à vida – e à morte – alheia.
Em frente a uma tela de celular, somos todos donos da verdade quando, na verdade, pouco sabemos sobre ela ou sobre nós mesmos.
Em frente a uma tela de celular, apertamos o gatilho e matamos planos, crenças e sonhos. Sem volta. Sem dó. Sem piedade.
Quer um conselho? Em frente a uma tela de celular, mate a saudade.
Enviemos.