01 de fevereiro de 2016

Projeto 52 objetos | aquele de nº 5

52 objetos, Cotidiano

projeto 52 objetos - gravador

O quê: Gravador de voz analógico
Por quê: Minha primeira aquisição jornalística
Onde está: Na mesinha do meu computador
De onde veio: Comprado numa loja de áudio e som

O quinto objeto do meu Projeto 52 objetos é minha aquisição profissional mais valiosa. Digo valiosa não no sentindo financeiro, mas sentimental, já que foi a primeira coisa “de jornalista” que comprei quando ainda estava na universidade: um gravador de voz analógico (o famoso – e velhinho –  gravador de fita).

Muita gente associa jornalista ao conjunto bloquinho+caneta, né?! Na minha cabeça, isso era o básico e, como nunca fui obrigada a ser básica (risos eternos), achei que o gravador de voz fosse a porta de entrada para exercer meu papel social e – quanta inocência – conseguir mudar o mundo.

Na verdade, a única coisa que consegui mudar foi minha conta bancária. Com uma bolsa de estágio de R$ 320 (2004), tive que guardar dinheiro por três meses para investir R$ 270 num gravador que, acreditem, só usei umas seis vezes! =p

Só quem é jornalista vai me entender! <3 A gente ama apertar o botão vermelho, gravar as entrevistas, ouvir e analisar palavra por palavra do entrevistado, mas decupar a fitinha é quase uma inquisição! E chega uma hora em que você precisa escolher: ou passa a manhã decupando uma entrevista de dez minutos ou aprende a extrair as falas mais importantes do entrevistado ali mesmo, no conjunto básico bloquinho+caneta. :)

Porém, numa entrevista minuciosa, um gravador vale ouro. Das vezes em que utilizei o meu, por exemplo, lembro-me de uma em particular: a análise de discurso que uma professora fez sobre Dom Casmurro, de Machado de Assis. Capitu teria ou não traído Bentinho?

Pesquisadores do mundo inteiro tentam responder a essa pergunta e eu, claro, não poderia ter cumprido melhor o meu papel de jornalista gravando uma análise tão profunda.

No mundo inteiro, gravadores de jornalistas guardam vozes embargadas, eufóricas, compassadas, rápidas, marcadas pelo regionalismo, pelo nível de escolaridade, pela ideologia, pela revolta, pelos sonhos. Gravadores guardam histórias.

Talvez por isso eu seja tão apegada ao meu. Não empresto, não dou, não vendo, não negocio e, sendo bem honesta, ele só estaria na “caixa do projeto52 objetos” porque ela é imaginária e seria aberta daqui a muuuuitos e muitos anos, quando eu já não estivesse aqui para dizer “Não!Meu gravador nãããão!” kkkkkkkkkk

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira