28 de julho de 2015

Sobre o mito de que o peso está na balança

Crônicas

Exceto nos primeiros dois anos de vida – nos quais, provavelmente, eu comia muito, andava pouco e só gastava energia sorrindo ou chorando para quem se aproximava – , eu sempre fui magra.

Para muita gente, talvez, essa frase pareça um autoelogio, mas na verdade é meramente genética e isso não tem nada de maravilhoso. Nem de ruim.  É apenas um característica física que as pessoas enxergam em mim.

Digo característica porque ser magra ou ser gorda não define quem somos, muito menos as facilidades/dificuldades que a vida nos oferece. A realidade é bem mais profunda e dolorosa: somos nós que transferimos o nosso próprio peso. Para a mídia, a sociedade, a família, os amigos, o namorado…(ou para mim, caso você ache que só estou dizendo isso porque sou magra)

balança

A mídia não quer que você fique magra. Aliás, TV, jornais, revistas, panfletos de lojas não estão nem aí para você! O que eles querem, meu bem, é ceder espaço para anunciantes que vendem. E se você acha que eles só vendem coisas para magras, deveria parar e pensar um pouquinho: numa sociedade em que a maior parte da população não é magra, como eles ganhariam dinheiro impondo produtos apenas para a minoria?

Caso você tenha aproveitado a liquidação e comprado aquele vestido P esperando perder uns quilinhos, a culpa, definitivamente, não foi da mídia. Nem dos anunciantes.

Também não culpe a sociedade. Desde que o mundo é mundo, padrões – de beleza, comportamento, religião, sexualidade – são determinados socialmente. Antes, esperavam-se corpos mais roliço; hoje, mais magros; amanhã, ainda não sabemos. A diferença é que, atualmente, contamos com alguns direitos e um deles é o da liberdade de escolha. Ou seja, aquele doce super calórico com o qual você se deliciou no almoço não foi uma imposição social…

Você desobedeceu aos seus pais na infância e na adolescência, quando ainda não ganhava um tostão. Disse que iria dormir na casa dos amigos e s-a-b-e-s-e-l-á-D-e-u-s o que aprontou. Vai me dizer que, agora, com emprego e pelos por todo o corpo, vai continuar se escondendo em tecidos escuros para não contrariá-los?

Amigos também não impõem coisa alguma. Quando muito, fazem drama para você sair de casa, às 23h, em plena terça-feira. E te acham linda mesmo desarrumada, com cara de sono e sem maquiagem.

Para completar, o único peso do amor é a saudade. Caso o seu namorado esteja colocando outra coisa na balança, ele que está transferindo pesos para você. Neste caso, pule fora e vá preencher a vida com outro alguém.

Conheço muita gente que não se sente bonita vestida num 36 e muita, muita gente que esbanja autoconfiança numa calça 46. Ser magra não é condição para a felicidade, mas aceitar-se como é, sim. Então, dispa-se dos pesos que criou para si mesma e seja feliz.

Use a roupa que te faz bem, independente de ela mostrar quilinhos a mais ou a menos. A beleza transparece nas atitudes, no bem-estar consigo mesma, na aceitação. Pare de se boicotar para atingir satisfações que, muitas vezes, nem são suas. Você é muito mais que os números mostrados na balança.

Pare de acreditar que aquele vestido justíssimo vai ficar lindo e te deixar uma tábua como a atriz da novela. Aquela desgraça aperta, sufoca e não te deixa comer um brigadeiro. Vá por mim: aquilo não é felicidade, minha filha!

Ah, e antes de alegar que só estou escrevendo isso porque sou magra, saiba que: nada do que os anunciantes/lojas vendem cabe em mim, o que me leva a crer que a sociedade me obriga a ser mais ‘cheinha’; os meus pais vivem dizendo que, se eu não comer, vou adoecer; e meus amigos tiram sarro dizendo que ainda entrarei numa garrafa.

Se eu ligo? Transfiro tudo isso para risadas peso-pesado e vou viver, oras! Ajustando quase todas as roupas na vida, mas tudo bem…

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
Escreva seu comentário

* Preenchimento obrigatório. Seu email não será divulgado.
Quer que sua foto apareça no comentário? Clique aqui
Comente pelo facebook
0 comentários