Sobre ficar para titia

Se você tem mais de 25 anos e seu estado civil é solteira, certamente já se deparou com o comentário de que vai ficar para titia. Comentário esse que reflete uma sociedade na qual a mulher é condicionada – e pressionada – a se casar e, caso não o faça, estará fadada à solidão de ser tia.

A associação da solteirice à solidão é tão estigmatizada que se tornou até mesmo involuntária. Quantas vezes você não já desejou “Parabéns!” a uma amiga por que ela começou a namorar? “Felicidades” entendo perfeitamente, mas “parabéns” por que mesmo? Ah, porque está dando indícios de que não vai ficar para titia, claro!

Tio Patinhas nunca foi questionado por ter “ficado para titio”…

Conheço pessoas que merecem parabéns por terem saído de uma prisão matrimonial ou simplesmente por estarem solteiras,  mas nunca foram lembradas…Vai entender!

Eu já ouvi – e ainda ouço –  o comentário de que caminho para ser titia. Afinal de contas, se aos 31 ainda não vislumbro data para vestido, véu, grinalda e um sonoro “sim, aceito”, o que estou fazendo mesmo da minha vida?

Muita gente ainda se desespera com a expressão. Solta um inocente “Deus me livre!” e, se a gozação for muita, ainda chora. Qual castigo poderia ser pior que ficar solteira, sem marido, sozinha, encalhada, encruada, deprimida (e todos os termos que me fogem agora à memória) para uma mulher?

Acontece que, ao ganhar um sobrinho, “ficar para titia” é ser parabenizada diariamente por não precisar de certidão alguma comprovando o amor que se nutre por um ser que sequer saiu do seu ventre. É não se deixar levar pelo pejorativo sentido  de uma expressão que, no fundo, diz mais que uma companhia atestada numa certidão civil.

Ficar para titia é fazer companhia, dividir sonhos, ajudar a crescer. Casar, para muitos, não.