02 de março de 2018

Sobre meus novos óculos de grau e a quebra dos padrões para a alta miopia

Cotidiano

Fazia muito tempo que estava insatisfeita com meus óculos de grau. As lentes de vidro pesavam TANTO que só conseguia ficar com eles no rosto por, no máximo, 1h. E com muita, muita dor. Além disso, a armação muito pequena também estava me torturando, pois me fazia ter perda do campo de visão, uma vez que todo míope tende a ver por baixo dos óculos para dar uma “espiadinha” (não sei pra quê, já que a gente não vê nada por baixo, mas tudo bem… kkk).

Assim, o que era para me salvar no descanso das lentes de contato e nas situações de extrema urgência (inflamações, irritações e afins) tinha se tornado um caos e tudo o que eu ouvia era: “Infelizmente, o padrão para óculos de alta miopia é esse. Se alterarmos, pode melhorar o conforto, mas ficará esteticamente desagradável…”

óculos de grau - jéssica vieira

Bom, eu sempre soube que existem limitações para a fabricação de óculos com lentes para alta miopia. Quanto maior a armação (sobretudo a distância vertical), mais grossa tende a ficar a lente. E se a lente for de vidro – como era o meu caso -, quanto maior a refração (o índice para “afinar” a lente) mais pesada ela fica, ou seja, nos moldes estéticos, é preciso escolher entre a cruz e a espada. Sempre.

Acontece que o meu padrão nesse quesito nunca foi a estética. Nunca tive opção. Aos oito meses, usava 1,25 graus de miopia nos dois olhos. Aos 10 anos, 12 graus… Passei a vida fora dos padrões estéticos nesse quesito e, ao longo desses quase 34 anos de existência, eu me arrisco a dizer, sem medo, que já passaram por mim pouco mais de trinta óculos.

óculos de grau - jessica vieira (22)

No estilo gatinho, em 1988, porque eu já era blogueirinha nessa época =)

Modelos coloridos, redondos, quadrados, “estilo gatinho”, com personagens de desenho animado, bichinhos, correntinhas…Tudo o que  vocês imaginarem já passou por esse rostinho aqui :) E tudo devidamente escolhido pelos meus pais ou, mais recentemente, por alguma atendente de ótica “para ficar dentro do padrão da baixa visão”. 

Só que “ficar no padrão” começou a me incomodar e e a não fazer sentido, já que eu só uso óculos em situações muito específicas e, neste caso, era para ser uma experiência minimamente confortável, como sempre foi.

Assim, pela primeira vez na vida, mandei fazer meus óculos de grau exatamente do jeito que eu queria (lentes, cor, modelo, tamanho) e fui enfática ao dizer à vendedora que me responsabilizaria pelo resultado (segundo ela, desastroso, mas confio muito mais na minha intuição que em qualquer outra opinião hahaha).

E viva – sempre – a minha teimosia porque o resultado foi MUITO melhor do que o esperado, vejam só:

óculos de grau - jéssica vieira

Meus novos óculos de grau

óculos de grau - jéssica vieira

De óculos eu entendo, rapá! Só não tinha a oportunidade de escolher… kkkkkk

 Óculos de grau: a escolha fora do padrão

óculos de grau - jessica vieira (23)

Em primeiro lugar, são 21 graus de miopia em ambos os olhos, tá? Então, por mais avançada a tecnologia e o fino tratamento dado às lentes, não se iluda: não existe milagre! Os óculos vão continuar grossos…

Bom, minha primeira solicitação foi a mudança no tamanho da armação. Por padrão, na alta miopia, eles recomendam modelos com até 30 mm de vertical (para a lente não ficar grossa demais), mas levei meus óculos antigos e provei por A + B que aquilo não fazia sentido, pois o tamanho é minúsculo para meu rosto, traz perda de campo visual e me deixa completamente desconfortável. Então, bati o pé MESMO e pedi uma maior, de 35 m, sem qualquer tipo de negociação, mesmo ouvindo de todas as vendedoras que aquilo não daria certo, já que ninguém havia feito algo parecido na ótica.

E, gente, pelo amor de Deus, as pessoas são diferentes, os rostos são diferentes… É inadmissível ter um único modelo de óculos para todo mundo que tem alta miopia. Padrão aqui deveria ser conforto, gosto pessoal, felicidade e empatia. #prontofalei

Óculos de grau: a escolha das lentes

Escolhido esse modelo lindo, pedi para trocar as lentes pesadíssimas de cristal (Zeis) pelas orgânicas da mesma marca. A diferença é surreal! No preço – que já é BEM alto – e no peso! Acho que só tive óculos leves desse jeito na infância…

No entanto, mesmo com índice 1,74 de refração  – a “raspagem” que é feita para a lente ficar mais fina do que realmente é – , o resultado é um pouco mais grosso que o anterior, mas nessa vida, minha gente, leveza é tudo e essa troca foi mais que acertada, viu?

óculos de grau - jessica vieira (24)

Comparação da espessura nos dois tipos de lente

Também pedi um acabamento antirreflexo para diminuir, ainda que minimamente, o efeito “fundo de garrafa”. Vejam abaixo os dois óculos juntos:

óculos de grau - jessica vieira (18))

Olhem a diferença no tamanho, minha gente! Perto dos novos, os antigos parecem os da Jéssica lá de 4 anos… hahahaha

Mesmo as lentes atuais tendo uma espessura maior que as anteriores, elas não chegam a encostar no rosto e muito menos a me incomodar.Fica tudo muito certinho e confortável, ótimo mesmo para descansar os olhos das lentes de contato.

óculos de grau - jessica vieira

Como disse lá em cima, eu sabia que as lentes ficariam grossas até porque essa é a REALIDADE de todo paciente alto míope! No entanto, sendo bem honesta, isso não é nada perto do conforto que é colocar seus óculos sem ter nariz e orelhas machucados em menos de uma hora pelo peso de lentes desnecessárias.

Deficiência visual: consulta e exames no oftalmologista

Mas uma coisa é certa: a percepção de visão com óculos e com lentes de contato é muito diferente. Eu não me sinto segura, por exemplo, em fazer coisas fora da minha rotina usando óculos, por exemplo. E isso não é só uma questão de costume, mas da minha própria “forma” de enxergar.

As lentes de contato acompanham meus olhos onde quer que eles estejam (por conta do estrabismo rs ), já as lentes dos óculos são fixas e eu acabo tendo um pouco de prejuízo visual por conta disso. É o que EU sinto, tá? E por compreender essa minha limitação, meu uso de óculos é mesmo restrito às situações emergenciais. :)

Especificações completas

Vou deixar aqui todas as especificações da armação e das lentes, para caso alguém tenha interesse pelo mesmo modelo ou por outro parecido:óculos de grau - especificações

Acho que é “só” isso! Queria fazer um post bem detalhado sobre meus novos óculos de grau. Assim, podemos repensar essa questão do “padrão” para pacientes com miopia muito alta, pois não adianta nada uma lente certinha numa armação pela qual a pessoa não sinta o mínimo prazer em usá-la.

Fica aqui o aprendizado de quem bateu MUITO o pé para conseguir esse resultado. Escolha a armação que vai te deixar feliz. ESQUEÇA padrões e use o que te faz feliz, pois ninguém conhece melhor o seu rosto que você!

Leia também:

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
27 de janeiro de 2016

Lentes de contato: tudo o que você precisa saber antes de se libertar dos óculos

Cotidiano

Desde que comentei sobre a minha alta miopia e o uso diário de lentes de contato, muita gente me perguntou como foi a minha adaptação, se dói para colocar ou para tirar as lentes, se realmente posso ficar o dia inteiro com elas, se não cansa os olhos, se não prejudica ainda mais a minha visão, se elas já rasgaram, se já as perdi…UFA! rsrsrs

Foram tantas perguntas que eu decidi vir aqui para contar um pouquinho sobre a minha experiência e os cuidados que tenho com as minhas lentes de contato deeeeesde o iniciozinho de uso, lá em 1997! :)

1- Identificando o problema, a necessidade e a responsabilidade

O uso de lentes de contato requer a avaliação de um oftalmologista. Sendo assim, é ele quem vai diagnosticar a sua dificuldade visual (miopia, hipermetropia, astigmatismo etc) e as suas necessidades.

Como vocês já sabem, tenho 18 graus de miopia em cada olho e isso implica óculos com lentes muito grossas, pesadas e que geram muito desconforto – e dor – se usados por muito tempo.

projeto 52 objetos - óculos de grau 1

Meus óculos

Em 1997, aos 13 anos, eu usava 14 graus e, somados ao “peso”, ainda havia a adolescência, os shows, as festas, os paquerinhas…  Definitivamente, não dava mais para sair com aqueles óculos nem para ouvir de tanta gente que “seus olhos são tão lindos, você deveria usar lentes de contato”.

Naquele ano, praticamente implorei para que meu oftalmologista me deixasse usar lentes de contato. Ele tinha receio de que, tão novinha, eu não desse conta da responsabilidade que essa mudança exige e que, consequentemente, eu pudesse ter alguma lesão no olho e a  minha realidade clínica pudesse piorar.

Sim lentes de contato exigem MUITA responsabilidade, disciplina e cuidados. Se você tiver preguiça de gastar, diariamente, uns vinte minutinhos com elas, nem se anime ou você pode colocar sua visão em risco.

O fato é que prometi seguir todas as orientações e ganhei um grande voto de confiança (obrigada, Dr. César!). Resultado? Estou usando lentes de contato há quase vinte anos 19 anos!

2 – Adaptação

Após a avaliação do oftalmologista, ele vai receitar as lentes de contato (normalmente, o pedido é feito pela própria clínica/hospital) e, num belo dia, você irá testá-las. “Ai, meu Deus!” hahaha

lentes de contato 1

As espinhas parecem com as de 1997, mas são de 2016 mesmo… hahaha

Não precisa ter medo. Um profissional irá te explicar direitinho como você deve segurá-las, limpá-las e colocá-las nos olhos.

“Jéssica, dói?”, “É difícil?”, “Posso furar meu olho?” , “Como faz para tirar?” kkkkkkkkkkkkk NÃO! NÃO! NÃO! Tirando, ué?! :)

De forma bem resumida: vc vai abrir o frasquinho com líquido no qual sua lente estará (um frasquinho para cada lente), vai abrir a palma da mão e derramar o líquido nela. Sua lente estará na palma da sua mão. Vai limpá-la com uma solução apropriada e, com o dedo indicador, vai levá-la à altura dos olhos para colocá-la.

lentes de contato 2

Parece difícil, eu sei, mas é bem intuitivo. Na hora de tirar, beeeeem mais fácil! Só usar os dedos polegar e indicador nas laterais da lente e contrai-las um pouquinho que ela já estará com você!

Minha adaptação foi super tranquila. A única coisa “estranha” era sentir os olhos um pouco mais lubrificados, mas isso só aconteceu nos dois ou três primeiros dias. Depois, tudo volta ao normal.

Conheço algumas pessoas que não conseguiram se adaptar ao uso de lentes de contato, mas só um médico saberá explicar o porquê.

3 – Limpeza, armazenamento e cuidados

Retiradas as lentes dos olhos (com as mãos limpas!), elas devem ser imediatamente colocadas na caixinha com uma solução apropriada (ao comprá-la, é preciso conferir no rótulo se ela é indicada para todos os tipos de lente, apenas lentes de contato rígidas ou apenas lentes de contato gelatinosas) e ter as tampas fechadas direitinho.

lentes de contato 3

Quando for colocá-las novamente, é necessário limpá-las com essa solução (coloque a lente na palma da mão e, com o indicador da outra mão, faça movimentos circulares) e lavar o potinho com água corrente.

Além da solução, existem produtos de limpeza profunda – os limpadores enzimáticos – que devem ser colocados na lente duas ou três vezes por semana, conforme a necessidade.

4 – Outras questões

É verdade que fungos e bactérias podem aparecer nas lentes de contato? Já aconteceu com você?

É verdade. Isso normalmente ocorre pela má higienização, manuseio  incorreto ou exposição a ambientes muito poluídos. Já aconteceu comigo uma única vez, depois de um carnaval.

Suas lentes já rasgaram ou já as perdeu?

Nunca as perdi, mas elas já rasgaram umas três vezes! hahaha Simplesmente, do nada! Guardei bonitinhas na caixa e, quando fui colocá-las, o rasgão numa delas! Aí, no meu caso, é ficar em casa e aguardar as novas chegarem porque eu não tenho qualquer condição de sair sem lentes na rua…

Você usa lentes descartáveis ou permanentes? Quanto tempo elas duram?

Sempre usei lentes gelatinosas permanentes com duração de um ano. Na prática, isso pode variar de acordo com o acúmulo de proteínas, por exemplo.

Você já dormiu com as lentes?

Não é o recomendado, mas já aconteceu. E é praticamente impossível isso não acontecer. Da primeira vez, fiquei em pânico, me achando absolutamente irresponsável, mas fiz a limpeza correta e ficou tudo bem. O que não pode é isso se tornar um hábito.

Você pode me dizer a marca da sua lente?

Infelizmente, não. Só o seu oftalmologista saberá recomendar a mais indicada para você.

Quais os produtos que você usa? Existe algum melhor que o outro?

Ao longo de 19 anos, já usei todos as marcas mais conhecidas e, sinceramente, não vejo diferença entre elas.

Seus olhos são claros mesmo ou você usa lentes coloridas?

São claros mesmo e minhas lentes são transparentes.

Pode chorar? A lente vai sair se isso acontecer?

Bom, em dezenove anos de uso, eu já chorei de amor, de dor, de raiva, de tristeza, de felicidade, de tudo o que você imaginar e elas nunca saíram…

Se entrar areia/cílio?

Aí ou você chora e as lágrimas se encarregam de todo o serviço, ou você corre uma maratona para tirar as lentes porque, amiga, não é fácil!

Você vai à praia/piscina com elas?

Vou, mas não abro os olhos dentro d’água e peço para quem estiver comigo não brincar de jogar água também. Na piscina, uso óculos de natação para aproveitar melhor as brincadeiras (não, eu não vou à piscina só para me molhar hahaha)

Usar lentes de contato é uma maravilha, mas antes de se empolgar com a ideia e de se libertar dos óculos, você precisa avaliar se realmente quer ter esse compromisso com os seus olhos e com a sua saúde. A resposta precisa ser a mais honesta possível.

Aqui, contei a minha experiência ao longo desses 19 anos, mas você deve pedir orientações ao seu médico tá?

Gostaram? Acho que esclareci a maioria das dúvidas, né? Quem tiver mais alguma pergunta sobre o assunto pode deixar aqui nos comentários que terei o maior prazer em respondê-la.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira