02 de fevereiro de 2018

Minhas memórias de janeiro 2018

Cotidiano

O ano começou de um jeito lindo por aqui e, sem dúvidas, esse mês de janeiro vai ficar guardado na minha ilha de memórias boas para sempre! <3 #viadivertidamente

Meu pai veio passar a virada de ano comigo, de surpresa, e os meus planos de passar uma noite introspectiva, refletindo sobre 2017, transformaram-se numa festa super animada, com direito ao mesmo look que usei no réveillon 2009! #soudessas

memórias - jessica vieira - feliz 2018

Dias depois, quem diria, resolvi marcar no corpo o que mal chega aos meus olhos, mas se reflete em tudo o que procuro emanar na vida ♥. Tatuei o nome “luz” em Braille no meu braço esquerdo, uma homenagem ao que me limita e, ao mesmo tempo, me fortalece diariamente. O texto completo está lá no Instagram (segue lá: @blogdeixemecontar) e pode ser lido na íntegra aqui.

tatuagem braille - jéssica vieira - deixemecontar

Janeiro também foi mês do fim da saga das cadeiras Eames coloridas (ainda falta a mesa) e da chegada do meu presente de Natal para mim mesma: uma poltrona rosa linda, elegante, charmosa, maravilhooooosa! Enfim, a princesinha dos móveis da minha casa desde já <3

cadeiras eames coloridas - deixemecontar

 

poltrona mimo - jessica vieira

Também foi o mês em que, finalmente, mandei fazer meus óculos novos. Como já contei nesse post, eles servem apenas para fins emergenciais (inflamações irritações e cansaço), mas nem para isso os antigos estavam servindo e eu precisava dar um basta na situação.

Pela primeira vez na vida, eu mesma escolhi o modelo da armação, questionei a necessidade de usar lentes de vidro  e me responsabilizei por tudo “fora do padrão baixa visão” que solicitei à ótica. Vamos ver o resultado agora em fevereiro, né? Tomara que dê tudo certo hahaha

De forma geral, acho que esses foram os momentos mais significativos desse primeiro mês de 2018. Tão leve, inspirador e de muitos aprendizados.

Vocês também tiveram algo que vão guardar na “Ilha das boas lembranças”? ♥

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
14 de agosto de 2017

O amor simplesmente transparece

Crônicas

Eu a vi chorando ao entrar no elevador. Um choro tranquilo, sereno, daqueles nos quais, por inocência, a gente acha que se esconde, mas, na verdade, transparece. E, pelo visto, cada lágrima que ela derramava ali transparecia amor.

Era amor quando ela tremeu os dedos ao apertar o botão do 3º andar. Era amor quando ela olhou ao redor e deu um sorrisinho de canto, como quem pede desculpas a si mesma por não ter ido além. Era amor quando ela tentou enxugar a lágrima antes que eu a visse escorrer pelo seu rosto. Era amor quando ela suspirou e, sem olhar para trás, saiu em silêncio.

Em poucos segundos, ela me mostrou mais sobre o amor do que tudo o que me disseram a vida inteira: o amor simplesmente transparece.

o amor simplesmente transparece - jessica vieira

Arte LINDA da @marquestalita <3

Transparece no choro contido pelo medo do que está por vir. Transparece no sorriso largo por saber – e sentir – que tem a melhor companhia do mundo. Transparece nas lembranças do passado e na vontade de estar junto no futuro. Transparece no abraço apertado, no beijo ardente, nas decisões de última hora e nas que marcam uma vida inteira.

Não tem jeito, o amor é mesmo assim. Por mais que a gente esconda, ele simplesmente transparece.

E que sorte a minha ter visto tanta transparência naquele elevador. Hoje, subo e desço andares com a impressão de que o amor pode estar logo ali, transparecendo a alma.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
07 de agosto de 2017

Em caso de despressurização no voo da vida, salve-se

Crônicas

Quando entramos num avião, somos lembrados de que “em caso de despressurização, máscaras de oxigênio cairão automaticamente,” devendo ser colocadas primeiramente em nós mesmos para, só depois, auxiliarmos quem está ao nosso lado.

Aparentemente, um plano de voo tão simples que nem damos a devida atenção, apenas rezamos – da origem ao destino – para que as benditas máscaras não caiam sobre nós.

Mas elas caem. Diariamente. Sem avisos, sem que as vejamos. Caem em todos os voos chamados “vida” e a regra de sobrevivência precisa continuar clara: “Em caso de despressurização, primeiro colocamos a nossa máscara. Depois, a dos outros”.

Eu demorei exatos oito anos, dois meses e seis dias para entender que não precisava ter colocado as máscaras de tanta gente antes da minha diante da “despressurização” que levou à morte do meu irmão. Tão acostumada a “ser exemplo”, achei que, naquele momento, tinha a obrigação de manter a calma e cuidar de todos para depois, quem sabe, cuidar de mim.

Mas não tinha. Nem que ser exemplo nem que priorizar a dor alheia, pois a dor, meus caros, é um sentimento solitário e a minha não era menor que a de ninguém.

em caso de despressurização

Não era menor que a dos meus pais, por terem perdido um filho; ou que a dos meus tios, por terem perdido um sobrinho. Tampouco era maior que a da minha cunhada, por ter perdido o então namorado; ou que a dos meus outros irmãos, por serem mais novos e terem convivido menos tempo com ele. Dores são dores e suas dimensões são incomparáveis.

Mas eu as comparei. E naquele momento, em vez de seguir as regras de sobrevivência, escolhi – sem qualquer dimensão – perder o meu ar aos pouquinhos para salvar uma tripulação inteira…

Fui perdendo o ar enquanto ficava acordada esperando minha mãe e os meus irmãos dormirem para, só então, pegar num sono de três, quatro horas e ter que me levantar para ir a um trabalho no qual as pessoas diziam que eu estava chegando atrasada por displicência. Afinal de contas, “oito dias é tempo mais que suficiente para retomar os trabalhos, pois perder um irmão não é como perder uma mãe”. Sim, eu tive que ouvir isso.

Fui perdendo o ar quando, ao chegar do trabalho, tinha a preocupação de ajudar na arrumação da mesa e de ter assuntos diversos para a hora tão difícil do almoço. A mesma mesa que meus irmãos e eu bagunçávamos – sem dó nem piedade – quando queríamos brincar de “casinha” na infância.  Era o nosso momento de união mais doce.

Fui perdendo o ar quando, em vez de dormir à tarde, resolvia ser fortaleza e ia organizar papéis, livros, roupas, arquivos digitais e inúmeros outros objetos do meu irmão. Quem já perdeu alguém querido sabe do que estou falando. Mexer em coisas pessoais, meus caros, é, de longe, a pior parte.

E, assim, fui perdendo o ar todas as vezes em que me achava forte e sufocava a minha dor na esperança ingênua de que ela sumisse… Só que a dor da perda nunca some. Assim como nós, ela muda de fase, percebe outras prioridades, amadurece e sai pra passear vestida com roupa leve, mas continua ciente da sua história.

O luto, por mais doloroso que seja, faz parte da vida. E essa vida continua. Sempre continua. O importante é viver a dor e ter ciência do peso dela em nosso coração, independente do peso que ela tenha para as outras pessoas.

Como diz a composição fantástica de Sérgio Britto, “Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração…”

Perder uma mãe ou um pai não dói mais ou menos. Perder um filho não dói mais ou menos. Perder um irmão, um namorado, um amigo ou qualquer outra pessoa especial não dói mais ou menos. Em caso de despressurização no voo da vida, apenas dói e nos falta ar.

E eu ainda perco o meu quando lembro que subestimei a minha dor e me guiei pela fortaleza que acreditava ser e não era. Aliás, ser fortaleza por fora num momento de dor só nos desmorona por dentro. Só nos tira o ar.

Por isso, em caso de despressurização, não ouse infringir a regra: salve-se primeiro. A tripulação inteira seguirá melhor assim.

 

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira