28 de setembro de 2016

Uma vida inteira dentro de um papelzinho

Crônicas

Vinte anos atrás, eu planejava casar aos 25 anos, com Marcelo, Gustavo ou Alan. Não, não havia preferência, qualquer um deles servia. Na conta, ainda estavam três filhos, dois carros e uma viagem de lua de mel para Nova Iorque, Paris ou Amsterdã. Um fluxograma audacioso para alguém com doze anos de idade, eu diria, mas é o que está escrito num papelzinho dentro de um paradidático da sexta série. E nem ouso desmentir: a letra é minha.

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Já saí dos 25 anos há sete e não casei. Marcelo nunca me deu bola. Para ser bem sincera – e um tantinho rancorosa – ele sequer me oferecia passatempo recheado na hora do lanche. E isso é um detalhe importantíssimo, que fique bem claro. Gustavo só falava comigo para tirar dúvidas na véspera das provas. Na maior parte do tempo, galanteava todas as meninas da escola e foi logo namorar a mais chata delas. Alan era um lord, mas chegava todo sujo e pingando suor até a alma depois de jogar bola no recreio. Seriam três casamentos falidos, claro. Só eu que, aos doze anos, não entendia.

Naquela época, eu não conseguia dar conta nem do meu cachorrinho. Imagine pensar em três filhos? Três! “Uma menina, um menino e, depois, tanto faz!” Tanto faz, claro…

Confesso que intrigada mesmo eu fiquei com esses “dois carros”. Uma família com cinco pessoas não caberia num só? Procurei, mas não tem nada aqui falando sobre a especificação ou motivo para cada um. Poderia ser um para rodar na cidade e outro para viajar, né? Vai saber.

Por falar em viagem, ficou claro que eu não tinha nenhum parâmetro para escolher meus destinos de lua de mel. Nova Iorque, Paris ou Amsterdã, três lugares tão diferentes… Aposto que escolhi um para cada pretendente. Aposto!

Uma vida inteira num único papelzinho em meio às páginas de um paradidático da sexta série. Um fluxograma decadente. E nem ouso desmentir: a letra é minha.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
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