16 de junho de 2015

Sobre o tempo de vida dos segredos

Crônicas

segredos

Meses atrás, contei à minha mãe que, em 1998, perdi o ônibus que levaria a turma do bairro a um forró no interior do estado e acabei viajando com outras pessoas. Dezessete anos se passaram e a bronca, no velório da informação, virou um sorriso de surpresa.

Hoje, ouvi de uma conhecida que a mãe dela nunca havia falecido num acidente de carro, mas a tinha deixado com o pai para viver com um outro homem numa outra cidade. Vinte e três anos com medo de ser rejeitada pelos amigos e com coragem de sobra para enterrar o defunto com lágrimas e sem extrema-unção.

Mas nem tudo que se enterra desaparece. Violência doméstica, assassinatos, desvio de verba pública, corrupção. Mais cedo ou mais tarde, até a perfeição do crime se acaba. Basta ligarmos a TV para vermos histórias sendo (re)veladas e enterradas. Anos de reconstrução, busca e apreensão que, infelizmente, no fim, desintegram a memória.

O vaso quebrado no Natal, o doce experimentado antes do almoço, o beijo roubado no fim da festa, a viagem para o frio quando o seu coração esquentou. Segredos. Quantos temos e quantos anos das nossas vidas cada um deles há de ter?

Morrem antes de nós ou há quem se encarregue de enterrá-los? Foram guardados em cômodos com portas entreabertas ou em baús cujas chaves não existem mais? Segredos. Quando surgem, aceleram. Quando somem, aliviam. Adrenalina e morfina puras.

Segredos. Meu Deus, viciam! Juro que não conto mais nada…

 

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
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2 comentários
  1. Letícia Kirchner

    Segredos e mais segredos. Durante muitos anos vivi uma amargura. E quando contei a alguém que tanto amo fui criticada. Foi duro levar mais um baque. Mas eu tenho vivido e perdoado. Suas crônicas são vida aos meus ossos. Tenho curtido e acompanhado e vejo que és uma guerreira. Vou me inspirar em você. Mas claro sem deixar de lado a minha melhor versão que é eu mesma.💜😁😀😘

    • Letícia, às vezes, os “baques” servem para nos fortalecer. São péssimos na hora, mas, acredite, nenhuma dor dura para sempre. Fico MUITO feliz em saber que meus textos te animam e que te inspiro de alguma forma. Esse, sem dúvidas, é o melhor presente que eu posso receber. Um grande beijo! :)