10 de agosto de 2015

Sobre namoros impedidos de liberdade

Crônicas

Mês passado, chamei uma amiga para ir ao cinema. Fazia algum tempo que não nos víamos e eu estava com saudades da alegria e da espontaneidade que só ela tinha ao sair do cinema. Após dois segundos de silêncio ao telefone, ela me responde meio sem jeito: “Vou ver com Fulano. Se ele quiser ir, eu vou”.

Não precisa ser mestre em análise do discurso para entender essa frase, mas de toda forma vou esmiuçá-la. Ao fazer um convite a alguém, você espera duas respostas, sim ou não. A negativa, contudo, pode ser justificada. O que não se espera é que a sua resposta dependa da vontade de uma terceira pessoa, sendo você maior de idade e capaz. A frase foi clara: ela só iria se Fulano quisesse ir e Fulano, que eu nunca vi, obviamente, não foi convidado.

Perguntei se ela só iria se ele fosse e, como resposta, “É que ele não gosta que eu saia só, Jéssica. Você precisa entender…”

Impossível.

Poderia ser somente ela, mas conheço inúmeras pessoas assim. Pessoas que deixam suas próprias vontades nas mãos de outras. Pessoas que amavam fazer determinadas coisas e que, ao entrarem num relacionamento, mal dão um passo desacompanhadas porque o outro não quer ou não gosta. Pessoas que precisam comunicar – e aguardar permissão – para ganharem nada menos do que aquilo que passaram a vida tentando conseguir: liberdade.

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Ilustração: Lidia Puspita

Não sei se foram as decepções de muitos amigos ou a minha personalidade forte, mas o fato é que, para mim, namoro é a união de duas pessoas diferentes que se unem por um sentimento comum: o amor.

Conceito romântico e ultrapassado? Talvez. Mas não mais que se colocar como marionete perante o outro. Sim, porque o outro não pode ser culpado sozinho. Tudo o que ele faz é consequência das portas entreabertas que alguém deixou. E se deixou, meu bem, uma hora a poeira vai entrar.

Vai entrar para diminuir, ofuscar ou amedrontar. Vai entrar levando inseguranças, afastando vontades, motivações, prazeres e amizades. Quando você menos esperar, mal vai se reconhecer em meio a tanto pó.

Namorar é uma delícia! E, para ser assim, é preciso estar disposto a entender o outro, a aceitar as diferenças e compreender que a bagagem dele tem pesos e medidas diferentes dos seus. Afinal de contas, cada um carrega espinhos e flores dos caminhos pelos quais já passou…

E, para continuar a trajetória, tope cinemas, festas, confidências, viagens, shows, pipoca, futebol, videogame… Tope viver, independente de quem quiser ir com você.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
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1 comentário
  1. Narla Monteiro

    Pior é que esses namoros tb acabam e a pessoa que vivia submissa não sabe mais quem é e nem como voltar à vida “normal”. Perdeu os amigos, a identidade e o prumo…