22 de junho de 2015

Sobre as impossíveis traduções do forró

Crônicas

Lembro-me com exatidão da primeira vez em que descrevi os festejos juninos do Nordeste para um gringo, um norte-americano que jantava comigo e outros amigos em Buenos Aires.

Ele me observada atentamente enquanto eu descrevia o clima da região, as comidas típicas, as quadrilhas juninas e os espaços onde grandes artistas se apresentavam para públicos ainda maiores. Inocentemente, ele me perguntou: “Eles cantam samba?” Dei risada e respondi “Não, eles cantam forró!”

forro - luiz gonzaga

Imagem: Carolina Burgo

Mas o que significa forró?

Eu poderia dar uma de enciclopedista e responder que é um ritmo consagrado no nordeste brasileiro, cujo maior ícone é Luiz Gonzaga e cuja musicalidade vem da sanfona, do triângulo e da zabumba, mas não consegui. Aquela pergunta, naquele momento, não tinha uma resposta pronta e muito menos objetiva.

Forró é algo que nasce com a gente. É o que te faz começar o ano esperando junho chegar. É o que move os seus pés e a vontade de que eles se juntem a outros num mesmo ritmo. Forró é o que contagia, o que pede calma, o que caleja e, ao mesmo tempo, o que amortece.

Forró é o que não segrega. É o que permanece constante da infância à velhice. É o cheiro da saudade misturado ao gosto do presente. Forró é o que a gente tem de melhor traduzido em música.

Se alguém fez algo diferente e teve a audácia de chamá-lo forró, respire fundo e, assim como eu, não espalhe em terras alheias. Nem todos os ventos que aqui gorjeiam precisam gorjear por lá.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
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