Uma coisa é fato: sou muito mais feliz quando estou com uma passagem nas mãos! ♥ De ônibus ou de avião, para perto ou para longe, para o frio ou para o calor, sozinha ou acompanhada, com mala de mão ou algumas bagagens para despachar. Enfim, das certezas que eu levo na vida, viajar é uma necessidade para a alma.
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Uma necessidade que, com o passar do tempo – dos voos e das estradas – , fez com que eu me descobrisse mais, amadurecesse ideias e visse, de fato, o que se encaixava dentro do meu bem-estar, independente da opinião alheia. Até porque cada pessoa é única e aquele famoso “você tem que conhecer isso!” não faz sentido para todos…
Viajar, ainda que seja em grupo, é uma experiência individual que deve respeitar gostos, particularidades, limitações e olhares sinceros a respeito da vida.
Por conta da minha limitação visual, por exemplo, eu sempre prefiro chegar ao meu destino com o dia ainda claro. Na maioria das vezes, não é nada econômico, mas facilita – e MUITO – a minha locomoção, fazendo com que eu me sinta mais segura, reconheça os arredores da vizinhança com nitidez e acabe aproveitando melhor o dia da chegada, sem o sono, o estresse e a impaciência decorrentes daquele fuzuê de aeroporto, né?
E, por falar em fuzuê, aprendi com a minha hostmother de Barcelona, uma senhora com pouco mais de 70 anos, que, ao pisar num outro país, é fundamental não ter pressa. “Não importa se é um mês ou um dia. Vai dar tempo de fazer a sua viagem porque ela é sua e de mais ninguém”, ela me dizia.
Uma baita verdade, sabia? Ao embarcar num outro lugar, parece que alguém ligou um relógio desenfreado em contagem regressiva e você repete aquele “Ai, meu Deus, não vai dar tempo. Não vai dar tempo. Nããããão vaaaaai daaaar teeeeeempooooo!” do começo ao fim, fazendo com que você acorde pensando no primeiro compromisso do dia e, ao estar nesse compromisso, pense no próximo, num ciclo repetitivo – e vicioso – que, sim, é uma grande perda de tempo…
Agora, responda sinceramente: tempo para quê?
Pare um pouco
Para mim, é tempo para caminhar despretensiosamente pelas ruas e observar os costumes de quem vive ali. É para conhecer a história política e social daquele lugar, compreender e aceitar as diferenças, sem exigir feijão, arroz, carne e batata frita em toda esquina só porque “no meu país é diferente”.
Para mim, é tempo para visitar os pontos turísticos além da necessidade da foto clichê, fazendo sentido à minha realidade, despertando o meu conhecimento e, por que não, as minhas próprias curiosidades internas, né?. Amo visitar parques, livrarias, restaurantes e, mesmo não gostando tanto de café e futebol, AMO estar em cafeterias e estádios. Vai entender…
Em compensação, sou apaixonada por História, mas, raramente vou a museus, pois a maioria deles é inviável para pessoas com deficiência visual e não possibilita acesso mais próximo às descrições dos acervos. Mas Paris jamais deixará de ser especial se alguém não vê o Louvre por completo, sabe?
Viajar só deixa mesmo de ser especial quando não se está em boa companhia. Dos outros ou de você mesmo. Posso garantir com toda convicção – e experiência: nem todo mundo é companhia para viajar. Pode ser a sua melhor amiga, o amor da sua vida, seus pais, irmãos ou, sinto muito, você mesmo.
Companhia de viagem está além de qualquer tipo de relação preestabelecida. Pode ser péssimo com alguém muito próximo ou maravilhoso com quem você acabou de conhecer. Pode ser libertador ou puro tédio com a sua própria companhia. Infelizmente, só dá para saber testando. Mas, posso dizer? Quando dá certo, é de uma recordação ímpar! ♥
Isso porque uma viagem feliz é aquela que tem a alma de quem viaja. Por isso, evito fazer pacotes prontos com agências de viagem (desses que mais parecem produção em série, sabe?). Normalmente, peço orientações com questões pontuais como assistência médica internacional ou assuntos de intercâmbio, mas os passeios, a hospedagem, a escolha do que vou fazer no destino prefiro eu mesminha decidir.
Foi assim que descobri meus caprichos mais inflexíveis: hotel e restaurante. Já contei aqui que sono é prioridade na minha vida. Pri-o-ri-da-de. E eu não me permito dormir em nada menos que um quadradinho com cama confortável e chuveiro bom, desses que molham a alma – com água quentinha, por favor (ai, que delícia! ♥). Além disso, a minha própria limitação visual exige que eu fique numa região bem localizada, com transporte fácil e perto de tudo. Não é luxo, é necessidade, é segurança para que eu possa ir e vir a qualquer hora do dia da melhor forma possível.
Sobre restaurante, há quem diga que é Sol em Touro, mas eu digo que é Sol na VIDA: comer é um evento que me dá MUITO prazer, então não importa se o restaurante é simples ou gourmet. a comida tem que ser maravilhosa. Vejam bem: não é boazinha não, é MA-RA-VI-LHO-SA. E aqui não há justificativa. Muito menos negociação. ;)
Viajar também me ensinou a pedir ajuda. A internalizar que eu não consigo – e nem preciso – fazer tudo. Foi assim que a vida me apresentou pessoas maravilhosas, espalhadas por muitos lugares do mundo, mas reunidas para sempre no meu coração.
Ah, claaaaaro, viajar também confirmou a minha paixão por roupas de frio, chocolate quente, maquiagem e artigos de papelaria. ♥
Quer um conselho? Compre um tripé. Pegue um avião. Ligue a câmera. Olhe ao redor. Pergunte. Responda. Agradeça. Peça ajuda. Ajude. Abra sorrisos. Derrame lágrimas. Experimente o diferente. Estude. Ofereça as suas experiências. Seja você aonde quer que vá e leve consigo o melhor que os outros lhe deram. Olhe para dentro. Drible todas as limitações. Crie táticas, planos, teorias que funcionem para você. Ainda que seja só para você. Diga “não”. Diga “sim”. Tire fotos. Guarde na memória. V I A J E!
A vida é muito rara para podar sonhos e coragem é a única coisa necessária na bagagem para seguir.
