16 de abril de 2018

Aos meus 33: não me despeço com saudade, mas me despeço agradecida por tudo

Crônicas

Domingo que vem é o meu aniversário, a data mais esperada do meu calendário, a que virou o evento mais imperdível – e contagiante – de parentes e amigos, a que considero meu verdadeiro ano novo, meu réveillon particular, minha real mudança de ciclo. E, por falar em ciclo, putz, como esse dos 33 foi difícil!

Teve o término de um relacionamento lindo e construído com muito amor; a triste perda de um amigo querido para um câncer rápido e cruel; uma grave questão familiar que me fez perder o chão; a notícia de que eu poderia estar com um problema de saúde bem complicado (mas que, no fim, deu “negativo”) e ainda o medo e a responsabilidade de assumir uma casa sozinha pela primeira vez!

Por muitas vezes, achei que não fosse dar conta, cansei de me perguntar o porquê de tanta coisa estar acontecendo ao mesmo tempo sem que eu pudesse sequer respirar para entender suas razões. Mas, lá no fundo, bem lá no fundo, eu sabia que essas razões existiam e que eu precisaria ter paciência para compreendê-las no momento certo.

aos meus 33
Paciência. Taí a palavra que resume esse ciclo que está se encerrando. A qualidade que eu nunca tive e que surgiu da forma mais sublime para me abraçar na dor e me dar as mãos nas redescobertas de mim mesma.

E que redescobertas, hein?!

Nunca pensei que fosse driblar tão bem a minha pouca visão nos cortes de carnes e legumes (os mais difíceis pra mim) a ponto de virar uma cozinheira de mão cheia! Também não imaginei pôr em prática – tão acertadamente – aquela criatividade da infância para transformar poucos objetos numa verdadeira “casinha de boneca”. Só que, agora, uma casinha de boneca real, com contas que não existiam lá nos meus projetos de 1990, né?! kkk

Dos inúmeros jantares no chão, devido à ausência de uma mesa, à presença constante de amigos queridos. Do choro ao riso. Dos erros aos acertos. Da dúvida à certeza. Certeza de que foi o ano mais difícil, mas o de maior fortalecimento da minha vida!

O ano que me fez enxergar quem eu sou de verdade e olhar para os meus defeitos e qualidades com ternura e aceitação. O ano que me renovou a fé e que, agora sim, me transformou na mulher mais forte que eu conheço (embora tanta gente já me dissesse isso…).

Se eu já tinha motivos para comemorar, agora é que vai ser uma festa! ❤ 33, não me despeço com saudade, mas me despeço agradecida. Por tudo!

Com carinho, ❤

Jéssica

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
05 de março de 2018

Para você que tem cheiro de chuva

Crônicas

Antes de você chegar, minha lembrança mais gostosa da chuva era a de um domingo à tarde, lá na minha adolescência, quando eu havia saído para comprar pão e, na curva da esquina, senti uma poça molhar meus pés e um ventinho gelado abraçar minha alma.

Por anos, essa foi a minha maior memória de serenidade e paz. Era nela que eu me fortalecia em cada tempestade, pois sabia que mesmo seguindo com os pés – ou os olhos – molhados, algo me abraçaria em outra esquina qualquer.

Tantos anos depois, num domingo que jamais haverá de ser qualquer, eis que você me abraça a alma não numa esquina, mas diante de uma janela, pedindo para deixá-la aberta e sentir o cheiro da chuva lá fora. Um cheiro que, desde então, não sai de mim.

chuva - cheiro de chuva

É que, quando chove, eu me lembro do seu brilho no olhar e corro para abrir qualquer janela e contemplar o inesperado. O que requer abrigo e paciência, o que nutre, fortalece e faz nascer flor.

É que, quando chove, sinto o cheiro da sua pele transformando o vento frio em respiração quente, que protege e extasia como o barulho compassado de  cada pingo d’agua no chão.

É que, quando chove, eu silencio para ouvir o mundo lá fora e, mesmo diante de uma buzina ou outra, percebo que você estava certo ao dizer que não se pode controlar tudo na vida. O tempo, de fato – e de Chico -, é da delicadeza.

E é justamente com delicadeza que, quando chove, observo os nossos passos largos e tranquilos. Tão sofridos, mas tão seguros, dispostos a pisarem em quantas poças forem para se manterem firmes, numa caminhada sublime que não deixa de pertencer a nós dois.

É que, quando chove, eu sinto a paz de que nada foi em vão e durmo com a janela aberta porque sinto que nunca estarei só, mesmo que pense estar. É que , quando chove, eu me lembro: fecho os olhos e rego a vida.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira
31 de dezembro de 2017

Não é para 2018, é para a vida

Crônicas

Enquanto eu tentava escrever uma lista de metas para 2018, alguns fatos importantes da minha caminhada surgiam como um filme e, entre lágrimas e sorrisos,  foi o maior aprendizado de 2017 que me fez largar todas as folhas sem sequer olhar para trás: “a gente não tem controle de nada nesta vida”.

Para quem cresceu aprendendo a controlar tudo à sua volta por conta de uma deficiência visual e ainda teve a brilhante ideia de nascer com Sol em Touro, a lição não tem sido das mais fáceis, mas, de certa forma, por mais dolorosa que seja, ainda sinto nela a melhor parte de estar viva. Tudo, absolutamente tudo, pode acontecer. Estejamos prontos ou não. ️

É óbvio que ter em mente inúmeros planos (eu tenho vários!) e batalhar de forma honesta para conquistar cada um deles é fantástico, mas compreender que o trajeto para alcançá-los é bem mais longo que a distância entre as linhas que os dividem numa página é primordial para ter a real noção da importância de cada um deles.

metas para 2018

Entre aquela viagem maravilhosa sonhada há anos e os livros que se pretendia ler, há perdas, imprevistos,  desapontamentos, mudanças nas necessidades, medos e angústias. Para alguns, apertam os passos. Para outros, paralisam.

Entre aquela promessa de fazer mais exercícios e de visitar os amigos com mais frequência, há a preguiça, a incompatibilidade de horários, uma briga entre um casal apaixonado ou a final de um campeonato importantíssimo. Para alguns, desculpas esfarrapadas. Para outros, motivos sérios de compreensão.

Entre as juras de amor eterno e o compromisso em deixar aquele vício de lado, há a inconsequência, a recaída, o arrependimento e a força de vontade. Para alguns, dá trabalho. Para outros, motivação.

Entre tantas laudas, entre tantas linhas, entre uma meta e outra, já dizia Lenine: “a vida não pára“.  Então, passageiros de 2018, só nos resta seguir. Não para um novo ano, para um novo calendário ou um novo ciclo, mas para todo o sempre que ainda nos resta.

E para o que ainda nos resta  tenhamos como meta caminharmos de cabeça erguida, respeitando os obstáculos, os tropeços , os dias ensolarados e as tempestades. Tenhamos como meta o melhor que somos, honrando nossas palavras e respeitando as escolhas alheias, ainda que isso implique soltarmos as mãos de quem amamos. Tenhamos como meta os encontros inesperados, as descobertas de novos caminhos, os saltos no escuro, a coragem para voltar a uma estrada  antiga, o mapa sem roteiro.

Não é para 2018, é para a vida: a gente não tem controle sobre ela. O “check” acontece nas chegadas e partidas.

Feliz Ano Novo, gente!

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira