Eu a vi chorando ao entrar no elevador. Um choro tranquilo, sereno, daqueles nos quais, por inocência, a gente acha que se esconde, mas, na verdade, transparece. E, pelo visto, cada lágrima que ela derramava ali transparecia amor.
Era amor quando ela tremeu os dedos ao apertar o botão do 3º andar. Era amor quando ela olhou ao redor e deu um sorrisinho de canto, como quem pede desculpas a si mesma por não ter ido além. Era amor quando ela tentou enxugar a lágrima antes que eu a visse escorrer pelo seu rosto. Era amor quando ela suspirou e, sem olhar para trás, saiu em silêncio.
Em poucos segundos, ela me mostrou mais sobre o amor do que tudo o que me disseram a vida inteira: o amor simplesmente transparece.
Transparece no choro contido pelo medo do que está por vir. Transparece no sorriso largo por saber – e sentir – que tem a melhor companhia do mundo. Transparece nas lembranças do passado e na vontade de estar junto no futuro. Transparece no abraço apertado, no beijo ardente, nas decisões de última hora e nas que marcam uma vida inteira.
Não tem jeito, o amor é mesmo assim. Por mais que a gente esconda, ele simplesmente transparece.
E que sorte a minha ter visto tanta transparência naquele elevador. Hoje, subo e desço andares com a impressão de que o amor pode estar logo ali, transparecendo a alma.