29 de junho de 2017

Sobre estar disposto a ser quem você é de verdade

Crônicas

Era junho de 2014, mas lembro-me como se fosse hoje. No meio de uma discussão fervorosa no WhatsApp, um colega soltou as seguintes palavras sem a menor cerimônia: “Eu odeio esse seu jeito comunicativo e verdadeiro de ser. Não gosto mesmo e não estou disposto a gostar.”

Aquilo me paralisou e me deixou triste por uns três meses. Eu não conseguia responder um e-mail, uma mensagem, um telefonema sequer de forma natural. Bastava o telefone tocar que eu entrava em pânico. Pânico mesmo! Logo eu, a comunicação em pessoa…

Até que, num belo dia, cruzei com um amigo super querido que fez questão de me lembrar: “Nunca mais conversamos, né?! Amo ouvir suas histórias e ver esse seu jeito todo empolgado de contar as coisas. É tão você!”.

Como as palavras têm poder… 

Eu realmente sou – e sempre fui – essa pessoa comunicativa demais, que se empolga ao contar qualquer bobagem que me traga felicidade. E ser diferente estava me causando sofrimento… Assim, foi exatamente naquele encontro com o meu amigo que recobrei os sentidos e entendi que quem precisa estar disposto a gostar do nosso jeito de ser somos nós mesmos e mais ninguém!

estar disposto - crônica

Imagem: Shutterstock

Claro que, muitas vezes, a opinião do outro é importante, mas essa opinião deve servir para proporcionar novos olhares sobre a nossa verdadeira essência e não para nos moldar atendendo a uma necessidade que não é nossa.

Ser quem somos nunca é – e nunca será – um defeito. Não é algo que precisa ser mudado para agradar o outro ou fazê-lo ter disposição para estar ao nosso lado. Ser quem somos é o melhor que podemos oferecer. A nós mesmos e a quem queremos ao nosso lado.

Talvez, o carinha de três anos atrás nem tenha escrito aquelas palavras por mal ou também o meu amigo querido nem goste taaaanto assim do meu jeito de ser, vai saber… Mas não é isso o que importa. O importante mesmo é a possibilidade de cada um de nós se reconhecer naquilo que é de verdade, sem esforços, sem filtros, sem máscaras.

Se a sua timidez vem da alma, não há nada de errado em ficar com as bochechas vermelhas e se atrapalhar um pouquinho na hora de conversar com alguém. Se você não enxerga nenhum talento para repetir a coreografia de uma dança, saiba que não há qualquer problema em ter um ritmo só seu. Se pensar em cuidar de cachorros te dá uma aflição eterna, isso não faz de você um ser insensível. Se o seu silêncio for a resposta mais sincera que puder dar a alguém, tudo bem também… É só você sendo você, como sempre deve ser.

De resto, cada um que cuide – e se cure – das suas indisposições.

Jéssica Vieira
Jéssica Vieira